Vacina de mRNA contra Covid pode prolongar vida de pessoas com câncer
Descoberta eleva esperança no desenvolvimento de uma vacina universal contra o câncer.
Cientistas descobriram que vacinas contra a Covid-19 que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), como as da Pfizer e da Moderna, podem elevar o tempo de vida em pacientes com estágio avançado de câncer de pulmão ou de pele.
O achado é considerado um passo importante em direção ao desenvolvimento de uma vacina universal contra o câncer, avaliam os especialistas.
Realizada por pesquisadores da Universidade da Flórida e do Centro de Câncer MD Anderson, da Universidade do Texas, a análise é preliminar e foi publicada na revista Nature na quarta-feira (22).
No artigo, os cientistas detalharam que pacientes oncológicos que receberam dose do imunizante, em até 100 dias após o início da imunoterapia, viveram significativamente mais do que os que não tomaram a vacina.
Vacina da Covid estimula células de defesa a atacar tumor
No tratamento do câncer de pulmão ou de pele, os médicos estimulam geralmente o sistema imunológico com medicamentos, fazendo as células de defesa reconhecer e atacar as cancerígenas.
Porém, a maioria dos pacientes oncológicos em estágio avançado não responde bem à imunoterapia. Então, nesses casos, é frequente o esgotamento de outras opções de tratamento, como radioterapia, quimioterapia e cirurgia.
Ao analisar, por cerca de oito anos, mais de 1 mil registros de pacientes no MD Anderson, o oncologista pediátrico Elias Sayour, coautor sênior do estudo, observou que vacinas de mRNA contra Covid-19 auxiliam as células de defesa a reconhecer e atacar tumores.
Como o imunizante age?
Isso acontece porque esse tipo de imunizante desencadeia uma resposta intensa do interferon tipo I (IFN-I), espécie de sinalizador celular que desempenha fator crucial na reposta imunológica.
Em reação, as células imunes inatas são ativadas e produzem glóbulos brancos capazes de reconhecer e atacar o câncer.
"Um dos mecanismos de como isso funciona é quando você administra uma vacina de mRNA, que atua como um sinalizador que começa a mover todas essas células imunológicas de áreas ruins, como o tumor, para áreas boas, como os gânglios linfáticos", disse Sayour.
Os pacientes chegaram a receber outras vacinas, sem mRNA, contra pneumonia ou gripe, mas isso não resultou em alterações na longevidade.
É importante destacar que a descoberta ainda é preliminar, fruto de um estudo observacional, e poderá ser validada durante um ensaio clínico randomizado, atualmente em desenvolvimento.
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Pacientes com câncer de pulmão vacinados vivem quase o dobro
O estudo acompanhou 884 pessoas em estágio avançado de câncer de pulmão, sendo que 180 delas receberam o imunizante de mRNA contra a Covid em 100 dias antes ou depois do início do tratamento.
No grupo, pacientes que receberam a vacina sobreviveram, em média, quase o dobro de tempo dos não vacinados.
A sobrevida foi de 37,3 meses nos imunizados, enquanto os demais foi de somente 20,6 meses.
Vacinados com câncer de pele vivem quase 50% a mais
A associação entre o imunizante de mRNA contra a Covid e maior tempo de vida também foi observado em pacientes com melanoma metastático.
Na pesquisa, 210 pessoas com o diagnóstico foram acompanhadas, sendo 43 imunizadas com o fármaco em até 100 dias após o início da imunoterapia.
Os cientistas descobriram que o tempo de vida em imunizados aumentou de 26,7 meses para uma faixa de 30 a 40 meses. Uma sobrevida de até 49,8% maior.
Inclusive, no momento da coleta dos dados, alguns pacientes ainda estavam vivos, o que pode indicar que o efeito da vacina pode ser ainda mais significativo.
Vacina universal contra o câncer
Anteriormente, outra pesquisa da Universidade da Flórida já tinha descoberto o potencial de vacinas de mRNA para criar um imunizante universal contra o câncer, e a nova evidência reforça o papel da tecnologia.
"Poderíamos desenvolver uma vacina inespecífica ainda melhor para mobilizar e redefinir a resposta imunológica, de forma que pudesse ser essencialmente uma vacina universal contra o câncer, pronta para uso, para todos os pacientes com câncer", destacou Sayour à Universidade da Flórida.