Por que millenials estão tendo câncer cada vez mais cedo?
Veja o que pode está por trás do aumento e quais tipos mais comuns.
Os millenials, jovens adultos nascidos entre 1981 e 1996, prometiam ser uma geração que chegaria aos 100 anos com facilidade. No entanto, a realidade observada em consultórios médicos está se mostrando diferente: millenials estão adoecendo de câncer cada vez mais cedo e em maior frequência do que outros grupos.
Até então, o câncer era uma doença historicamente associada ao envelhecimento, porém está cada vez mais comum em pessoas com menos de 50 anos. A mudança vem acendendo um alerta em cientistas e na saúde pública.
A seguir, a coluna explica o que pode estar por trás do crescimento, quais tipos de tumores são mais comuns nessa faixa etária e o que pode ser feito para prevenir a condição.
Casos aumentaram quase 80% em millenials
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a American Cancer Society (ACS) indicam que casos de tumores malignos em millenials cresceram quase 80% globalmente, entre 1990 e 2019, enquanto as mortes causadas pela condição aumentou 27,7%.
Os dados revelam ainda uma crescente disparidade entre gêneros, na qual mulheres são a maioria dos pacientes acometidos entre jovens adultos.
É importante destacar que o aumento dos números não é uma consequência de uma maior procura por ajuda médica, conforme explica o oncologista da Oncoclínicas, Cristiano Resende.
"Não é raro hoje atender pessoas na faixa dos 30 ou 40 anos com tumores que, no passado, víamos quase exclusivamente após os 60. [...] E isso não significa que estamos fazendo mais exames; significa que estamos, de fato, diagnosticando mais casos."
A tendência é que os índices da doença entre pessoas com menos de 50 anos continuem crescendo significativamente até 2050, conforme projeções do Global Cancer Observatory (Globocan).
Por que millenials estão tendo câncer mais cedo?
Não existe um único culpado para justificar o crescimento de tumores em jovens adultos.
Na verdade, a ciência aponta um conjunto de fatores, conforme afirma uma publicação da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (da sigla em inglês Esmo), divulgada neste ano. Entre eles:
- Má alimentação, com alto consumo de açúcar e de ultraprocessados;
- Obesidade, fenômeno que começou ainda na infância para boa parte dos millenials;
- Sedentarismo;
- Consumo de álcool, muitas vezes em episódios intensos e concentrados;
- Privação crônica de sono;
- Exposição a poluentes e agentes químicos;
- Alterações da microbiota intestinal, causadas, por exemplo, pela exposição precoce a antibióticos na infância;
- Envelhecimento acelerado.
"Não existe uma única causa. Estamos falando de uma combinação de mudanças no estilo de vida. [...] Além disso, o componente genético tem sido identificado com mais frequência, porque temos mais acesso a testes que antes não estavam disponíveis", aponta Resende.
O oncologista Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas&Co e presidente do Instituto Oncoclínicas, avalia que o que pode estar acontecendo é uma mudança significativa no perfil epidemiológico do câncer, resultando em implicações clínicas, sociais e emocionais importantes.
A carga ambiental e o estilo de vida contemporâneo parecem ter influência direta na mudança desse padrão."
Tumores que mais crescem entre millenials
- Câncer de mama;
- Câncer de tireoide;
- Câncer do colo do útero;
- Câncer de testículo;
- Cânceres digestivos (colorretal, esôfago, ducto biliar extra-hepático, vesícula biliar, estômago, pâncreas e fígado);
- Câncer urogenitais (rim e próstata);
- Câncer de pulmão, inclusive em paciente não fumantes.
Diagnóstico tardio
Muitos jovens adultos priorizam compromissos acadêmicos, profissionais ou sociais em detrimento da saúde. Então, frequentemente, desconsideram sintomas iniciais, elevando as chances de diagnóstico tardio dessas neoplasias, aponta o editorial da Esmo.
Outro ponto importante levantado pela entidade é que atualmente há poucas diretrizes de rastreabilidade direcionadas para jovens adultos.
Por exemplo, o ideal é que mulheres comecem a realizar exames preventivos para identificar câncer cervical a partir dos 21 anos, no entanto, a maioria dos protocolos padrão excluem a faixa etária.
O câncer em adultos jovens não pode mais ser tratado como exceção. É uma realidade em ascensão. Precisamos falar sobre isso e agir."
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O que pode ser feito para prevenir?
Ambos os oncologistas defendem ser possível adotar algumas estratégias para prevenir o desenvolvimento de tumores malignos em jovens adultos, entre elas:
- Revisar protocolos de rastreamento, especialmente para câncer colorretal;
- Vacinação ampla contra HPV;
- Políticas públicas de combate à obesidade;
- Promoção de hábitos saudáveis desde a infância;
- Atenção às queixas gastrointestinais persistentes em jovens.