Amigas com câncer de mama redescobrem a alegria no mar de Fortaleza
Auxiliadas por uma rede de apoio, elas encontraram esperança na canoagem.
Receber um diagnóstico de câncer de mama pode parecer uma sentença. Porém, para alguns, a descoberta pode ser um despertar, uma segunda chance para ser feliz, descobrir prazeres e valorizar o que realmente importa: estar vivo.
Pelo menos, essa é a jornada das amigas e colegas de trabalho Rilka Barbosa e Ana Paula Freire, que encontraram no esporte coletivo e no apoio de familiares e de amigos a esperança para enfrentar a doença.
No Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma, a condição é o tipo de tumor maligno mais comum entre mulheres, e também a principal causa de morte por câncer na população feminina, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A entidade estima que mais de 73 mil novos casos de câncer de mama sejam registrados até o fim de 2025 — número que reforça a importância da conscientização promovida pelo Outubro Rosa.
O impacto do diagnóstico e o medo do futuro
Gerente de Desenvolvimento do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), em Fortaleza, Rilka, de 53 anos, viu a rotina mudar em maio deste ano após sentir fisgadas, vermelhidão e rigidez no seio esquerdo.
Devido aos sintomas, procurou ajuda médica e, após realizar alguns exames, descobriu que se tratava de um câncer de mama em estágio avançado.
A efemeridade da vida, a ideia de deixar os filhos ainda pequenos e o pai idoso foram os primeiros pensamentos dela, que foram acompanhados da tristeza de não saber quanto tempo de vida tinha.
A preocupação com a família também acometeu a analista de Recrutamento e Seleção do ISGH, Ana Paula, de 47 anos, em outubro de 2023, quando descobriu a doença enquanto realizava exames de rotinas.
Meu maior medo era como contar para os meus filhos, e se meu estado de saúde piorasse, como eles ficariam caso perdessem a mãe."
A psicóloga Graziela Monte, que também atua no ISGH, explica que essa mistura de sentimentos, de preocupações e de sensação de falta de controle são comuns em pacientes que recebem um diagnóstico de doença grave.
"Muitas mulheres relatam medo, tristeza, ansiedade e até raiva. A sensação de choque ou incredulidade também é comum, assim como as preocupações com o futuro e com as mudanças no corpo e na rotina. Esses sentimentos fazem parte do processo de adaptação."
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Rede de apoio e nova rotina
A fé em Deus e o apoio da equipe médica, de familiares, de amigos e dos colegas de trabalho ajudaram Rilka a seguir em frente.
Passando o baque inicial, a gerente procurou se adaptar à nova rotina, conciliando tratamento, vida familiar e trabalho.
Preferi não me afastar das minhas atividades do trabalho, assim não me sentia doente. Me envolvia nas atividades e não ficava pensando em doença."
O apoio familiar, de amigos e de colegas no trabalho também auxiliaram Ana Paula a se sentir mais segura durante o processo.
O papel da família e dos colegas de trabalho
O suporte de uma rede de apoio durante esse período é algo fundamental, explica a psicóloga Graziela Monte, que detalha o que pode ser feito para acolher pacientes com doenças graves:
Ouvir sem julgar, oferecer ajuda nas tarefas do dia a dia e respeitar as escolhas e os limites da paciente fazem grande diferença. Palavras de incentivo, compreensão e disponibilidade para conversar sobre medos e sentimentos ajudam a fortalecer emocionalmente. A rede de apoio tem um papel essencial ao oferecer acolhimento, escuta e companhia nos momentos de vulnerabilidade."
Esperança e acolhimento no mar
Foi no trabalho onde Rilka recebeu a indicação de uma iniciativa que renovou suas esperanças: o projeto voluntário (A)Mar Rosa, que acolhe sobreviventes do câncer de mama e as ensina a praticar canoagem no mar de Fortaleza.
Mesmo não tendo o costume de realizar exercícios físicos regularmente, a gerente decidiu dar uma chance e passou a se reunir semanalmente com as outras alunas.
Entre uma remada e outra, Rilka viu uma amizade coletiva crescer em meio a trajetórias semelhantes, tornando-se um local de refúgio e de redescoberta da vida.
Consegui me identificar com aquelas mulheres que passaram as mesmas dores e medos que eu, e que estavam ali rindo, brincando, felizes e vivendo acima de tudo."
Em seguida, ela decidiu convidar Ana Paula para também conhecer o projeto e, desde então, as duas passaram a remar pela orla de Fortaleza.
A experiência melhorou a minha autoestima, me fez praticar um esporte, pois fazia muito tempo que não praticava nenhum, e me deixou mais tranquila."
Graziela Monte explica que a prática regular de exercícios físicos ajuda a reduzir a fadiga, melhora o humor e fortalece o corpo de pacientes de doenças graves.
"Práticas como meditação, respiração consciente, arteterapia e participação em grupos de apoio, também contribuem para diminuir a ansiedade, promover o bem-estar e fortalecer emocionalmente. Manter pequenos hobbies ou atividades prazerosas, como ouvir música, ler ou dedicar-se a algo que traga alegria, ajuda a recuperar a sensação de controle e normalidade na rotina. O bem-estar não elimina o desafio, mas torna a jornada mais leve e significativa."
O poder da fé e da esperança na recuperação
À coluna, Rilka e Ana Paula destacaram que um diagnóstico de câncer de mama é um desafio que requer fé e resiliência para continuar, e deixaram mensagens para quem está passando por algo semelhante:
"Tenha muita fé, acredite que Deus vai fazer o que é melhor para nós. Aproveite cada minuto da vida para ser feliz!", aconselha a gerente.
"Encarei essa fase da minha vida como uma virada de chave, como se Deus estivesse me dando mais uma chance. Então, não desista, não desanime, tenha muita fé e lute com todas as forças e possibilidades pela cura."
Sinais de alerta: quando procurar um médico
Conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Câncer de Mama, são considerados sinais de urgências os seguintes sintomas:
- Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos;
- Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual;
- Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade;
- Descarga papilar sanguinolenta unilateral (secreção com sangue de um único mamilo);
- Mudança no formato do mamilo e retração na pele da mama;
- Lesão eczematosa da pele que não responde a tratamentos tópicos (Ferida ou irritação na pele do bico do seio que parece uma alergia ou micose, mas que não melhora com pomadas comuns);
- Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral (Caroço que aparece e pode ser sentido em apenas uma das mamas);
- Presença de linfadenopatia axilar (Ínguas ou caroços na axila); e
- Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema, como pele com aspecto de casca de laranja.
Ao apresentar qualquer um desses sintomas procure um médico. A identificação dos fatores de risco e o diagnóstico precoce são fundamentais, conforme o Ministério da Saúde.