Amigas com câncer de mama redescobrem a alegria no mar de Fortaleza

Auxiliadas por uma rede de apoio, elas encontraram esperança na canoagem.

Escrito por
Carol Melo carolina.melo@svm.com.br
(Atualizado às 13:57)

Receber um diagnóstico de câncer de mama pode parecer uma sentença. Porém, para alguns, a descoberta pode ser um despertar, uma segunda chance para ser feliz, descobrir prazeres e valorizar o que realmente importa: estar vivo.

Pelo menos, essa é a jornada das amigas e colegas de trabalho Rilka Barbosa e Ana Paula Freire, que encontraram no esporte coletivo e no apoio de familiares e de amigos a esperança para enfrentar a doença.

No Brasil, excluindo os tumores de pele não melanoma, a condição é o tipo de tumor maligno mais comum entre mulheres, e também a principal causa de morte por câncer na população feminina, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

A entidade estima que mais de 73 mil novos casos de câncer de mama sejam registrados até o fim de 2025 — número que reforça a importância da conscientização promovida pelo Outubro Rosa.

Imagem mostra Rilka Barbosa, à esquerda, e Ana Paula Freire, à direita, amigas com câncer de mama que se redescobriram na canoagem no mar de Fortaleza após diagnóstico da doença.
Legenda: Rilka e Ana Paula encontram no esporte coletivo força contra a doença.
Foto: Arquivo Pessoal.

O impacto do diagnóstico e o medo do futuro

Gerente de Desenvolvimento do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), em Fortaleza, Rilka, de 53 anos, viu a rotina mudar em maio deste ano após sentir fisgadas, vermelhidão e rigidez no seio esquerdo.

Devido aos sintomas, procurou ajuda médica e, após realizar alguns exames, descobriu que se tratava de um câncer de mama em estágio avançado.

A efemeridade da vida, a ideia de deixar os filhos ainda pequenos e o pai idoso foram os primeiros pensamentos dela, que foram acompanhados da tristeza de não saber quanto tempo de vida tinha.

A preocupação com a família também acometeu a analista de Recrutamento e Seleção do ISGH, Ana Paula, de 47 anos, em outubro de 2023, quando descobriu a doença enquanto realizava exames de rotinas. 

Meu maior medo era como contar para os meus filhos, e se meu estado de saúde piorasse, como eles ficariam caso perdessem a mãe." 
Ana Paula Freire
Analista de Recrutamento e Seleção

A psicóloga Graziela Monte, que também atua no ISGH, explica que essa mistura de sentimentos, de preocupações e de sensação de falta de controle são comuns em pacientes que recebem um diagnóstico de doença grave. 

"Muitas mulheres relatam medo, tristeza, ansiedade e até raiva. A sensação de choque ou incredulidade também é comum, assim como as preocupações com o futuro e com as mudanças no corpo e na rotina. Esses sentimentos fazem parte do processo de adaptação."

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Rede de apoio e nova rotina

A fé em Deus e o apoio da equipe médica, de familiares, de amigos e dos colegas de trabalho ajudaram Rilka a seguir em frente.

Passando o baque inicial, a gerente procurou se adaptar à nova rotina, conciliando tratamento, vida familiar e trabalho.

Preferi não me afastar das minhas atividades do trabalho, assim não me sentia doente. Me envolvia nas atividades e não ficava pensando em doença."
Rilka Barbosa
Gerente de Desenvolvimento

O apoio familiar, de amigos e de colegas no trabalho também auxiliaram Ana Paula a se sentir mais segura durante o processo. 

O papel da família e dos colegas de trabalho

O suporte de uma rede de apoio durante esse período é algo fundamental, explica a psicóloga Graziela Monte, que detalha o que pode ser feito para acolher pacientes com doenças graves:

Ouvir sem julgar, oferecer ajuda nas tarefas do dia a dia e respeitar as escolhas e os limites da paciente fazem grande diferença. Palavras de incentivo, compreensão e disponibilidade para conversar sobre medos e sentimentos ajudam a fortalecer emocionalmente. A rede de apoio tem um papel essencial ao oferecer acolhimento, escuta e companhia nos momentos de vulnerabilidade."
Graziela Monte
Psicóloga

Esperança e acolhimento no mar

Imagem mostra grupo de sobrevivente de câncer de mama que praticam canoagem no mar de Fortaleza em pé em canoa, no mar, segurando faixa que diz movimento remadoras rosa do Brasil, em referência aos projetos de canoagem que reúnem sobreviventes da doença pelo Brasil para praticar o esporte.
Legenda: Mulheres sobreviventes ao câncer de mama praticam canoagem na orla de Fortaleza.
Foto: Arquivo Pessoal.

Foi no trabalho onde Rilka recebeu a indicação de uma iniciativa que renovou suas esperanças: o projeto voluntário (A)Mar Rosa, que acolhe sobreviventes do câncer de mama e as ensina a praticar canoagem no mar de Fortaleza.

Mesmo não tendo o costume de realizar exercícios físicos regularmente, a gerente decidiu dar uma chance e passou a se reunir semanalmente com as outras alunas. 

Entre uma remada e outra, Rilka viu uma amizade coletiva crescer em meio a trajetórias semelhantes, tornando-se um local de refúgio e de redescoberta da vida.

Consegui me identificar com aquelas mulheres que passaram as mesmas dores e medos que eu, e que estavam ali rindo, brincando, felizes e vivendo acima de tudo."
Rilka Barbosa
Gerente de Desenvolvimento

Em seguida, ela decidiu convidar Ana Paula para também conhecer o projeto e, desde então, as duas passaram a remar pela orla de Fortaleza.

A experiência melhorou a minha autoestima, me fez praticar um esporte, pois fazia muito tempo que não praticava nenhum, e me deixou mais tranquila."
Ana Paula Freire
Analista de Recrutamento e Seleção

Selfie mostra Rilka Barbosa, em primeiro plano, com amiga Ana Paula Freire ao fundo, ao lado de outras sobreviventes do câncer de mama e professor de canoagem na orla de Fortaleza.
Legenda: Prática elevou a autoestima das duas e se transformou em um lugar de refúgio e terapia em grupo.
Foto: Arquivo Pessoal.

Graziela Monte explica que a prática regular de exercícios físicos ajuda a reduzir a fadiga, melhora o humor e fortalece o corpo de pacientes de doenças graves

"Práticas como meditação, respiração consciente, arteterapia e participação em grupos de apoio, também contribuem para diminuir a ansiedade, promover o bem-estar e fortalecer emocionalmente. Manter pequenos hobbies ou atividades prazerosas, como ouvir música, ler ou dedicar-se a algo que traga alegria, ajuda a recuperar a sensação de controle e normalidade na rotina. O bem-estar não elimina o desafio, mas torna a jornada mais leve e significativa."

O poder da fé e da esperança na recuperação

À coluna, Rilka e Ana Paula destacaram que um diagnóstico de câncer de mama é um desafio que requer fé e resiliência para continuar, e deixaram mensagens para quem está passando por algo semelhante:

"Tenha muita fé, acredite que Deus vai fazer o que é melhor para nós. Aproveite cada minuto da vida para ser feliz!", aconselha a gerente.

"Encarei essa fase da minha vida como uma virada de chave, como se Deus estivesse me dando mais uma chance. Então, não desista, não desanime, tenha muita fé e lute com todas as forças e possibilidades pela cura."
Ana Paula Freire
Analista de Recrutamento e Seleção

Sinais de alerta: quando procurar um médico

Conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Câncer de Mama, são considerados sinais de urgências os seguintes sintomas: 

  • Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos;
  • Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual;
  • Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade;
  • Descarga papilar sanguinolenta unilateral (secreção com sangue de um único mamilo);
  • Mudança no formato do mamilo e retração na pele da mama;
  • Lesão eczematosa da pele que não responde a tratamentos tópicos (Ferida ou irritação na pele do bico do seio que parece uma alergia ou micose, mas que não melhora com pomadas comuns);
  • Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral (Caroço que aparece e pode ser sentido em apenas uma das mamas);
  • Presença de linfadenopatia axilar (Ínguas ou caroços na axila); e
  • Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema, como pele com aspecto de casca de laranja.

Ao apresentar qualquer um desses sintomas procure um médico. A identificação dos fatores de risco e o diagnóstico precoce são fundamentais, conforme o Ministério da Saúde.

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