Estudo classifica gasolina automotiva como cancerígena; veja riscos e quem é mais vulnerável

Com a elevação do potencial, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) recomendou a redução gradativa da exposição ao combustível

Escrito por
Carol Melo carolina.melo@svm.com.br
Legenda: A exposição laboral e da população em geral ocorre principalmente por meio da inalação de vapor do combustível
Foto: Shutterstock

Um novo estudo elevou o potencial causador de câncer da gasolina automotiva, que passou de "possível carcinogênica" para "cancerígena". Com a atualização da classificação, divulgada na última sexta-feira (21), o Instituto Nacional de Câncer (Inca) recomendou a redução gradativa da exposição ao combustível, principalmente para trabalhadores de postos e das indústrias petroquímicas, os quais são mais vulneráveis aos efeitos nocivos do agente. 

Na análise científica, publicada na revista The Lancet Oncology, a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês) mudou a categorização, de 2014, e apontou que a gasolina automotiva causa: 

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Segundo as evidências da pesquisa, o combustível usado em veículos e automóveis ainda pode possivelmente provocar:

  • síndrome mielodisplásica;
  • linfoma não Hodgkin;
  • mieloma múltiplo;
  • câncer de rim;
  • câncer de estômago;
  • leucemia linfocítica aguda infantil.

A Iarc é uma instituição ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS) e é responsável por classificar a carcinogenicidade das substâncias. O Inca é um dos integrantes da organização internacional. 

Quem é mais vulnerável?

A exposição à gasolina automotiva acontece, principalmente, pela inalação do vapor da sustância. A população e os trabalhadores da indústria petroquímica podem ser expostos ao agente nocivo durante a produção, o transporte e o abastecimento de automóveis.

Frentistas são apontados como o grupo mais vulnerável, devido à exposição aos níveis mais altos de gasolina que os demais cidadãos.

Com a mudança na classificação, o Inca publicou uma nota técnica recomendando o seguinte:

  • redução gradativa da exposição ocupacional a gasolina de veículos e automóveis;
  • substituição do combustível por agentes com menor potencial de carcinogenicidade e toxicidade;
  • adoção de sistema estruturado de recuperação de vapores das bombas dos postos de combustíveis
  • implementação de processos de trabalho mais modernos visando evitar a exposição excessiva do trabalhador, minimizar riscos e danos à saúde e visando a proteção à saúde humana e à prevenção dos cânceres relacionados à exposição à gasolina automotiva, especialmente entre os trabalhadores mais expostos.

Mutação genética e inflamação: veja efeitos nocivos da gasolina

A pesquisa da Iarc analisou os mecanismos causadores de câncer no combustível e identificou que ele é genotóxico (danifica o DNA), induz estresse oxidativo e inflamação crônica em humanos. Há também uma forte evidência mecanicista em sistemas experimentais. 

Nos estudos conduzidos em animais, os cientistas descobriram que a gasolina elevou a incidência de neoplasias malignas e uma combinação de tumores malignos e benignos, em ambos os sexos, de duas espécies em múltiplas análises científicas.

Ainda na nota técnica, o Inca e a Iarc elencaram os principais componentes tóxicos presentes na gasolina. São eles:

  • benzeno;
  • cumeno;
  • xileno;
  • tolueno;
  • etilbenzeno;
  • éter di-isopropílico (Dipe);
  • éter terc-amilmetílico (Tame);
  • éter metil terc-butílico (MTBE);
  • éter etil terciário-butílico (ETBE);
  • álcool terc-butílico (TBA).  

O que é uma substância cancerígena?

O Inca explica que um agente é considerado cancerígeno quando a exposição a ele pode aumentar a incidência de neoplasias ou redução importante do período de latência entre a exposição e o aparecimento do câncer, conforme explica o Inca em nota técnica sobre o tema. 

"O câncer é uma doença multifatorial, com longo período de latência, causado pela interação entre os fatores ambientais e genéticos. Entre 80% a 85% dos casos de câncer são decorrentes de exposições a agentes químicos, físicos ou biológicos presentes no meio ambiente, e o restante está relacionado a condições hereditárias ou genéticas", destaca o instituto. 

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