IA não é solução mágica para as empresas e requer práticas de governança, diz especialista
A inteligência artificial (IA) impôs um novo desafio à governança empresarial. O professor da Universidade da Califórnia e fundador da Pacifica Global, Evan Epstein, chama a atenção para o uso do recurso como se fosse uma solução mágica para todos os problemas, sem levar em conta a implementação de práticas transparentes e responsáveis.
“Lembram daquele pozinho de fada da Disney? Há um boom, e o Vale do Silício usa para dizer que é uma boa novidade", comparou, durante o Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), nessa terça-feira (8), em São Paulo.
"Usam a ideia de que IA é um benefício para a humanidade. Eu não sei qual, mas está escrito lá [nessas companhias]", questionou.
Para Evan, a trajetória da OpenAI, responsável pelo ChatGPT, ilustra bem o conflito entre inovação e governança. Fundada com o objetivo de promover pesquisas para uma organização sem fins lucrativos, a empresa agora possui um valor de mercado de US$ 157 bilhões.
Além disso, lembrou, o bilionário Elon Musk, um dos fundadores da OpenAI, entrou com uma ação judicial contra os cofundadores Sam Altman e Greg Brockman, alegando que o negócio desviou-se de sua missão original de desenvolver inteligência artificial para o bem da humanidade.
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Naquele ano, em 2023, Altman foi demitido do cargo de CEO, mas voltou ao posto cinco dias depois. “Foi considerado o maior golpe do Vale do Silício depois da demissão de Steve Jobs, e deixou todos furiosos”, destacou, acrescentando ter sido um grande exemplo de governança inadequada.
Após a crise, o conselho da empresa foi reformulado, incorporando novas práticas.
“As pessoas do Vale do Silício não prestam atenção na governança”, completou.
Outro ponto, destacou, é que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos já se preocupa com práticas de IA washing, termo que faz referência à greenwashing”, expressão usada para “maquiagem verde” ou “lavagem verde”. Ou seja, quando marcas demonstram ser sustentáveis, mas não são.
Ceará é destaque em práticas ESG
A coordenadora-geral do Capítulo Ceará IBGC, Renata de Paula Santiago, disse que as companhias cearenses estão “muito abertas, atentas e conscientes” sobre a importância de ações ESG.
“O Ceará tem mais empresas listadas na bolsa de valores do que o restante do Nordeste. É um estado que desponta pela força, abrangência e pujança, transformando suas maiores dificuldades em pontos fortes, como o sol e o vento”, avaliou.
Para ela, a alta adesão do empresariado cearense ao evento, por exemplo, sinaliza uma crescente conscientização sobre a importância da governança e de outras práticas ESG.
A 25ª edição do Congresso do IBGC ocorre nestes dias 8 e 9 de outubro, no WTC Events Center, em São Paulo,
*A repórter viajou a convite do Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa