Aos 55 anos, artesã do Serviluz descobre no bordado uma nova fonte de renda e esperança

Legenda: Após aprender a bordar, Aíla Maria planeja ter o negócio próprio
Foto: Sal Filmes / Divulgação

Nascida e criada na comunidade Serviluz, onde as ondas não descansam, a artesã Aíla Maria, de 55 anos, acostumou-se a ver e ouvir a beleza de todos os cantos. Mas, curiosa como é, não se contentou em apenas admirar. Ainda menina, enredou-se com agulhas e linhas para transformar retalhos em roupas de boneca.

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“Via minha mãe fazer bolsas de palha para vender e achava lindo isso de criar com as mãos”, lembra. Ela foi brincando, até perceber ter destreza para a coisa. Aos 18 anos, após se tornar mãe pela primeira vez, começou a fazer os laços para o cabelo da filha.

Desde então, praticou crochê, macramê, porcelana fria e "só faltava mesmo aprender a bordar". Seus produtos começaram a ser vendidos para as mães da escola da filha, vizinhança e familiares, mas nunca foi possível viver exclusivamente da renda de seu artesanato.

Agora, com os quatro filhos crescidos, ela conseguiu se dedicar mais ao ofício e tirou a carteirinha de artesã, feito do qual se orgulha muito. Com a oportunidade de treinar o bordado por meio do projeto Comunidades Criativas, ela já planeja ter seu próprio negócio e participar de feiras. 

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Na iniciativa, Maria e outras 19 mulheres transformam fardas em acessórios. “Aprendi tantas técnicas que não sabia. Comecei a olhar para tudo ao meu redor e imaginar como não desperdiçar aqueles mínimos pedacinhos. Isso tem aberto ainda mais a minha mente, tudo que vejo agora quero colorir, mudar, bordar. São tantas coisas lindas, mas estou pensando em investir nas bolsas”, relata.

“Moramos em uma comunidade carente, onde os retalhos, agulhas e linhas são acessíveis. Basta pedir para uma amiga, reutilizar uma roupa que cortamos. Poder transformar o que ia para o lixo em algo bordado à mão é ouro para nós”, avalia.
Aíla Maria
Artesã

Conhecido como 'Bairro do Estaleiro', o Serviluz, localizado em área privilegiada com ondas constantes na Praia do Titanzinho, possui um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de Fortaleza, com apenas 0,38 pontos em 2010, segundo dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico.

O IDH, que varia de 0 a 1, avalia aspectos como saúde, educação e renda, sendo um indicador da qualidade de vida da população.  

Projeto promove empoderamento econômico de mulheres em comunidades

Artesanato
Legenda: No projeto Comunidades Criativas, as artesãs reutilizam fardamentos de eletricistas da Enel e retalhos da indústria têxtil, criando estojos, bolsas e pulseiras
Foto: Marcella Elias / Divulgação

O projeto de que Maria participa encontra-se em sua 4ª edição em 2024. Nos últimos três anos, foram atendidas as comunidades do Poço da Draga e da Graviola, localizadas na Praia de Iracema.

Nesta edição, 20 moradoras do Serviluz, com idades entre 30 e 65 anos e fora do mercado de trabalho, foram selecionadas para aprender técnicas de artesanato com o objetivo de gerar renda.

As atividades ocorrem às terças e quintas-feiras, com término em dezembro. As artesãs reutilizam fardamentos de eletricistas da Enel e retalhos da indústria têxtil, criando estojos, bolsas e pulseiras. As aulas incluem técnicas de reuso, redesign e a combinação de tapeçaria com crochê ("puxadinho"), além de costura manual e bordado.

De acordo com a coordenadora criativa do projeto, Flávia Muluc, “o objetivo é criar novas possibilidades de geração de renda que impactem de modo positivo a comunidade do Serviluz e melhorem a qualidade de vida das famílias”. 

A coordenadora executiva, Pollyana Gualberto, acrescenta que o projeto contribui para a saúde e autoestima das mulheres. "Embora o projeto não tenha como foco a terapia, as atividades acabam sendo terapêuticas, ajudando as participantes a reinventar suas trajetórias, fortalecer sua resiliência e estabelecer novos laços de amizade e parceria na comunidade", diz.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

O projeto Comunidades Criativas é alinhado a sete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). São eles: erradicação da pobreza; saúde e bem-estar; igualdade de gênero; consumo e produção responsáveis; trabalho decente e crescimento econômico; redução das desigualdades; e cidades e comunidades sustentáveis.

Realizado pelo Instituto Ecocult, a iniciativa tem parceria com o Núcleo de Base do Serviluz e apoio institucional da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE), contando com o apoio cultural da Enel Ceará.

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