Quem é o cearense que partilha o terreno com a agricultura familiar e produz o melhor mel do Brasil
Em 1999, o cearense Valderi Moreira, hoje com 67 anos, descobriu a atividade milenar da apicultura (criação de abelhas para produzir mel) e decidiu investir no negócio. “Era um homem do campo e fiquei muito empolgado”, lembra. No início, eram apenas cinco colmeias em sua propriedade, em Limoeiro do Norte, no interior do Ceará.
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Para começar, o produtor compartilhou o terreno com agricultores familiares, os quais utilizavam a área para plantar frutas e outras culturas, enquanto Valderi aproveitava o pólen e o néctar desses cultivos para garantir o alimento das abelhas. Deu certo. Ao longo dos anos, o número de colmeias chegou a 500, totalizando 12 toneladas do alimento.
Após 25 anos, o mel produzido pelo cearense foi considerado o melhor do País, conforme premiação da Associação Semper Fidelis, em parceria com a Confederação Brasileira de Apicultura (CBA). O prêmio foi concedido no fim de 2023, em Brasília.
“No fim dos anos 1990, fiz um curso sobre apicultura no Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec) e me empolguei. Comecei com cinco e, aos poucos, as colmeias foram se multiplicando”, relata.
Em 2023, para conciliar com a atividade de venda, o produtor começou a reduzir o quantitativo, passando para 10 toneladas por ano, todas para abastecer o mercado cearense. Atualmente, oito agricultores partilham a terra para o plantio.
“É bom para todos. Quando encerro, também libero para eles ficarem com o pasto para produzirem por mais um período”, aponta como funciona o modelo de convívio harmônico entre agricultura e apicultura.
Valderi esteve no primeiro dia da 27ª Pecnordeste, no Centro de Eventos, em Fortaleza. A feira segue até sábado, 8 de junho.
Setor se preocupa com a diminuição da população das abelhas
As abelhas desempenham um importante papel para a biodiversidade, já que polinizam diversos alimentos. Além disso, o inseto contribui com a polinização de árvores nativas necessárias para a captura de carbono da atmosfera.
Apesar desse papel, a espécie sofre com o aumento das temperaturas, cujas consequências podem ser a redução ou até o fim dessas populações. Outra ameaça para as abelhas é o uso de agrotóxicos.
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Para se ter ideia, no início deste ano, em Goiás, três fazendeiros foram indiciados pela morte de quase 9 milhões de abelhas. Segundo a Polícia Civil, o crime ambiental foi provocado pelo uso irregular de agrotóxico em lavouras próximas aos apiários onde eram criados os insetos.
Segundo o presidente da Federação Cearense de Apicultura e Meliponicultura (Fecap), Joventino Neto, o Ceará não é prejudicado pelo uso do veneno por ser pioneiro ao proibir a aplicação de agrotóxicos por via aérea, por meio da lei Zé Maria do Tomé (Lei 16.820/2019), de 2019.
No entanto, a entidade tenta conscientizar outros produtores sobre as práticas nocivas para a espécie. “As abelhas são cruciais para a sobrevivência do ser humano”, frisa.
“Trabalhamos em prol da natureza e para repor a mata nativa, mas não é fácil. As pessoas pensam que é só cajueiro e outras [culturas] e vão degradando tudo”, completa. Joventino acrescenta já ter ido a Brasília discutir sobre o tema e pensar em medidas para preservação da espécie.