É tempo dos caretas (e de renovação)

Do pão de coco aos brincantes mascarados que acumulam prendas pelos nossos sertões, a semana santa nos renova culturalmente e espiritualmente

Legenda: No interior do Ceará, a Semana Santa extravasa as igrejas e ganha as ruas com as tradições da religiosidade e da cultura popular
Foto: Honório Barbosa/Agência Diário

Separa o pão de coco e um pouco de vinho que já é Semana Santa. Chegou o tempo dos caretas. Nas ruas reais e metafóricas do nosso sertão, brincantes vestem máscaras e roupas multicoloridas para passar pelas comunidades pedindo e acumulando prendas. Passam pelas casas dançando e recolhendo alimentos, bebidas e até dinheiro para um ritual que se encerra no Sábado de Aleluia, com a malhação de Judas, o discípulo que traiu Jesus.

É um costume trazido ao Brasil com a colonização e foi ganhando novos formatos pela riqueza cultural do nosso povo. Aqui no Ceará, grupos de brincantes passam meses planejando a confecção das máscaras. O apetrecho é indispensável para a tradição e pode ser feito com couro de animal ou até mesmo papelão. O importante é brincar. E saber que o tempo dos caretas conta também a nossa história.

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Semana Santa no Interior é um feriado que extravasa as igrejas e ganha as ruas com as tradições da religiosidade e da cultura popular. Para mim, sempre foi tempo de olhar para o meu rincão, retornar e brincar. Se eu estivesse no Cedro, faria visitas de casa em casa para tomar um vinhozinho e comer a velha canjica que celebra as boas chuvas.

Soube que no Cariri a busca pelos pães de Jacaré está intensa. Nas ruas de Fortaleza, os bonecos de judas com imagens de políticos começam a aparecer nas esquinas. Tem versão de Lula a Bolsonaro, passando até por Alexandre de Morais, sendo vendida a uma média de 250 reais. Também é tempo de protestos.

Na quinta tem o ritual do lava-pés. Na sexta Santa, não comemos carne para honrar o sacrifício feito por Jesus. Aliás, qual foi a sua promessa de quaresma? Conseguiu refletir?

Em um hospital de Fortaleza, enfermeiros e técnicos distribuem chapéus de coelhos para dar algo lúdico aos enfermos. Em outro, ensaios de fotografias aliviam mães e pais de bebês internados. São pequenos gestos que nos lembram que a Semana Santa e a Páscoa também são tempos de nos renovar, como preconiza o costume dos ovos de chocolate que escondemos para as crianças.

Aos religiosos praticantes ou não, que a Semana Santa traga o tempo das brincadeiras dos caretas, a possibilidade de reconstruir e ajustar coisas da vida e o sentimento de comunhão e coletividade. Boa Páscoa!