Suicídio na Adolescência: o sofrimento não é frescura

Campanha Setembro Amarelo destaca a necessidade de cuidar da saúde mental

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A adolescência é um período de muitas transformações no corpo e na mente, marcada por um momento de grande vulnerabilidade. O jovem tem que lidar com a perda do corpo infantil, com a sexualidade, as escolhas da vida profissional, os primeiros relacionamentos amorosos, e todas essas experiências tendem a ser vivenciadas de forma muito intensa.

Nessa idade, ainda não há maturidade cognitiva e emocional o suficiente para lidar com experiências conflituosas. Por essa razão, os adolescentes são mais susceptíveis as mudanças e impactos do que vem de fora, o que pode levar a tentativas de suicídio por não saber lidar com os desafios da vida.

Suicídio na adolescência e depressão como fator de risco

O processo do suicídio recorrentemente acontece de forma silenciosa, sem expressões claras sobre o que se passa internamente. Todavia inicia-se com a ideia de que seria melhor morrer, e depois podem surgir planos suicidas.

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Geralmente o indivíduo está vivenciando um quadro depressivo, acompanhado de ansiedade, ódio e culpa. A pessoa dirige contra si sua agressividade, o que dificulta a busca por ajuda. Transtornos psiquiátricos, bem como o uso de álcool e drogas, possuem relação direta com casos de suicídio na adolescência.

É necessário que os cuidadores fiquem atentos a mudanças de comportamento, isolamento social repentino, uso de roupas longas, mesmo quando o clima está quente, pois pode indicar tentativa de esconder o comportamento autolesivo.

Se o adolescente expressa falas recorrentes como “Eu prefiro morrer”, "Não aguento mais", “Eu sou um peso para os outros”, “Ninguém sentirá minha falta”, “Os outros serão mais felizes sem mim”, não negligenciem, são expressões de sofrimento e verbalizações de ideias suicidas.

Todas essas mudanças, somadas a experiências infantis de pouco afeto por seus cuidadores, ou marcadas por violências verbais, físicas ou sexuais, tendem a formar um indivíduo com uma autoimagem fragilizada. Adolescentes que não receberam limites necessários durante a infância, para desenvolver habilidades de lidar com frustrações, também apresentam dificuldades no enfrentamento de conflitos.

Outro fator que contribui para o aumento do sofrimento entre os jovens é que as famílias estão mais distantes dos filhos, porque trabalham muito e geralmente acabam os deixando sem suporte emocional, sem amparo. Dessa forma se enchem de atividades e sobra pouco espaço para conexão. Como meio de refúgio o que muitas vezes preenchem os adolescentes são as redes sociais, que abrem espaço para comparações, deixando-os mais vulneráveis e insatisfeitos consigo e com suas vidas.

Diante de toda essa realidade adoecedora, para além do suporte profissional, esse sofrimento pode ser prevenido com o envolvimento do jovem na comunidade, com o apoio da família, amigos e relacionamentos realmente significativos, trazendo uma sensação de pertencimento. Ações de conscientização durante o ano – não somente em setembro- e promoção de apoio socioemocional nas escolas, também ajudam no combate e prevenção ao suicídio.

Precisamos tratar o assunto com seriedade, não julgar os adolescentes, achando que estão sofrendo por frescura, ou porque querem chamar atenção. É necessário respeito e empatia com seus sentimentos, mostrando que nos importamos e que realmente queremos ajudar.

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora