Também conhecida como autolesão, a automutilação é caracterizada pelo ato de machucar o próprio corpo intencionalmente. A forma mais comum é por meio de cortes, porém, pode ser cometida também por aranhões, pancadas ou queimaduras.
Esse comportamento tem aparecido com muita frequência nos consultórios de psicologia e escolas. Estima-se que um a cada cinco adolescentes já praticou autolesão pelo menos uma vez na vida.
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De acordo com estudos recentes, a prevalência desta prática autodestrutiva está entre os 10 e 25 anos de idade, ou seja, os maiores números de casos concentram-se entre a pré-adolescência e os adultos jovens.
A automutilação é um assunto sério e preocupante que demanda muita atenção e cuidado. Se não for devidamente tratado pode evoluir para quadros mais graves, e até levar a morte.
De acordo com estudos psicológicos, esse comportamento é uma forma de lidar com conflitos internos, traumas não resolvidos, experiências dolorosas do passado ou dificuldades na regulação emocional.
Durante muito tempo, a prática foi associada a um tipo de personalidade emocionalmente instável. Porém pesquisas recentes, mostram que está associado a diversos fatores: sintomas de algum transtorno mental como boderline, transtorno dissociativo de identidade, depressão, transtornos de ansiedade.
A automutilação pode ser entendida como uma tentativa de canalizar a dor emocional para o corpo físico, proporcionando alívio temporário ou um sentimento de controle sobre a própria vida.
É necessário ressaltar que crianças e adolescentes que se desenvolveram em ambiente tóxico, que sofreram maus tratos, abuso físico e sexual, ciclo familiar instável, sofreram bullying ou passaram por algum tipo de trauma, tem maior tendência a cometer a automutilação.
No consultório, com frequência escuto falas de pessoas associando o comportamento a um enorme sentimento de culpa. Acreditam que fizeram algo de errado, e se machucam como uma “necessidade de punição”.
É uma culpa que carregam em relação a essas situações estressoras de sua história ou de seu cotidiano atual e que utilizam como justificativas para a automutilação. Porém, percebo que na verdade existe um grande sofrimento que não lhes é possível elaborar por meio da palavra, então precisam mostrar através do próprio corpo.
É natural existir muita incompreensão e julgamento a respeito dessa temática, afinal nosso instinto primário é protegermos da dor e não causá-la. Por isso entender e perceber que alguém está se mutilando pode ser difícil, essas pessoas tendem a esconder e se envergonhar, muitos não comentam com familiares ou amigos. Entretanto existem alguns sinais e sintomas que devemos ficar atentos:
- Presença de cortes, queimaduras, arranhões ou outras lesões inexplicáveis no corpo, geralmente em áreas discretas e escondidas;
- Uso frequente de roupas que cubram partes do corpo, como moletons e casacos, mesmo em climas quentes, como forma de esconder as lesões;
-Aparecimento frequente de pequenos objetos cortantes, como lâminas de barbear, tesouras, alfinetes ou objetos pontiagudos em pertences pessoais;
-Mudanças no comportamento, como isolamento social, dificuldade em lidar com emoções intensas, mudanças de humor repentinas, irritabilidade, tristeza ou ansiedade;
- Declínio no desempenho acadêmico ou profissional, perda de interesse em atividades anteriormente apreciadas e queda na motivação geral;
- Vestígios de sangue em tecidos, roupas de cama ou banheiro;
- Reações emocionais excessivas ou explosivas;
- Ficar atento as postagens nas redes sociais, pois pode haver sinais de que a pessoa está em sofrimento;
-Desenvolvimento de comportamentos compulsivos, como arrancar cabelos (tricotilomania) ou arranhar a pele (dermatilomania).
É importante lembrar que esses sinais e sintomas podem ser indicativos de outras questões de saúde mental e nem sempre indicam automutilação. Mas se você suspeitar que alguém está se automutilando, a conduta imediata é acolher, não deve julgar, brigar, ou achar que a pessoa está apenas chamando atenção.
Há muito sofrimento e é crucial abordar o assunto com empatia. Demonstre preocupação e carinho, ofereça apoio emocional. O que essa pessoa em profunda dor precisa, é de alguém que se importe, que vincule, se conecte com ela de forma sincera e pergunte como está se sentindo.
Deixe a pessoa falar. O desabafo é uma forma de dividir essa angústia e é essencial nesses momentos.
Incentive a pessoa a buscar ajuda de profissionais de saúde mental, que poderão realizar uma avaliação adequada e fornecer o suporte necessário.
O tratamento pode envolver terapia individual, que busca explorar os significados por trás desse comportamento autodestrutivo, investigando as causas subjacentes e as dinâmicas emocionais que o sustentam.
Pode envolver também a terapia familiar, medicamentos, e a criação de um ambiente de apoio e compreensão.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora