No mês de conscientização e combate ao bullying nas escolas, mais um caso de atentado violento
Março Laranja chama a atenção para problema social que se manifesta de forma física, verbal e psicológica, entre outras
Mais uma vez nos deparamos com um caso de atentado violento em escolas do nosso país, dessa vez em SP, na Escola Estadual Thomazia Montoro, onde um adolescente de 13 matou a facadas uma professora de 71 anos e feriu mais 4 pessoas da escola.
Segundo depoimento de alunos, o motivo do atentado, teria sido uma briga entre o agressor e outro aluno, onde o agressor teria chamado o outro aluno de “macaco” e este por sua vez partiu para briga, que foi apartada pela professora. O agressor jurou vingança, chegando a publicar em sua redes sociais.
Estamos diante de mais um caso de bullying escolar, com graves consequências. Esse caso acontece no mês dedicado a prevenção e combate ao bullying nas escolas.
O “março laranja” é um projeto criado pelo vereador manauara Luis Mitoso, e visa alertar os vários setores da sociedade sobre os males causados por essa prática nas escolas, tanto para as vítimas bem como para os agressores.
O bullying é definido como um comportamento intencional, repetitivo e agressivo, que pode ser verbal, físico ou psicológico.
O bullying verbal é manifestado através de palavras (oral ou escrita), são apelidos, xingamentos, insultos; o bullying físico, são práticas de agressões através da imposição da força física, empurrões, tapas, socos, beliscões, puxões de cabelo; já o bullying psicológico, é quando o agressor intervêm ou controla o modo de ser e estar das vítimas, ou seja, quando acontecem exclusões, perseguições, chantagens, discriminações, manipulações.
Embora esses sejam os mais comuns, há outros tipos de bullying, como o familiar, quando a vítima e o agressor fazem parte do mesmo núcleo familiar e o cyberbullying, quando as agressões são realizadas através das redes sociais ou em ambiente virtual.
É um assunto que nos últimos anos tem tido grande destaque, pois todos os dias aflige milhares de jovens em todo o mundo. No Brasil, o problema está cada vez mais frequente nas escolas. Atos de violência como o massacre na escola municipal de Realengo, em abril de 2011, na escola estadual de Suzano em 2019 e na creche escola de Santa Catarina em 2021, foram praticados por pessoas que tinham em comum, o fato de terem sido vítimas de bullying escolar.
Um dos principais fatores que contribuem para o bullying nas escolas é a falta de habilidades sociais. Os jovens que são vítimas deste problema, geralmente têm dificuldade em se relacionar com outras pessoas, são tímidos ou considerados diferentes e “esquisitos”.
É importante notar que o bullying não é apenas um ato de maldade, mas também pode ser um sinal de que algo mais profundo está acontecendo. O agressor de alguma maneira está expressando através da violência e perseguição, suas angústias e medos.
Estudos mostram que o agressor normalmente tem um ambiente familiar conflituoso, pode ter pais abusivos, negligentes ou é testemunha e vítima, de atos de violência doméstica.
Como o bullying escolar pode afetar o desenvolvimento neurológico dos envolvidos?
O bullying escolar pode ter um efeito significativo no desenvolvimento neurológico das vítimas. Está associado a uma variedade de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e baixa autoestima. Estes problemas podem afetar o desenvolvimento neurológico, pois o estresse crônico e a redução da autoestima podem levar à formação de conexões neurais negativas que afetam a capacidade mental, emocional e social das vítimas.
Estudos mostram que o bullying pode levar à redução da memória de trabalho, menor capacidade de resolver problemas e maior probabilidade de desenvolver transtornos psicológicos. Estes problemas, podem gerar uma maior dificuldade em aprender novas tarefas e consequentemente causar uma redução do desempenho acadêmico.
Já no agressor o estresse crônico do bullying pode desencadear alterações nos neurotransmissores, como a adrenalina e cortisol, que afetam a motivação, funções cognitivas e comportamentos. Além de problemas emocionais, como depressão e ansiedade, o agressor desenvolve alterações na estrutura do cérebro e pode manifestar transtornos de personalidade. Estudos mostram que os agressores tendem a apresentar maior probabilidade de se envolver em comportamentos de risco, como uso de álcool e drogas.
Como identificar uma vítima de bullying escolar?
Por ser um assunto que afeta diretamente a autoestima das crianças e dos adolescentes, normalmente eles preferem ficar em silêncio. Movidos pela vergonha, medo ou para não parecerem fracos ou covardes, ficam mais retraídos. Porém, há alguns sinais que os pais devem estar atentos.
Um dos primeiros sintomas que uma criança ou adolescente vítima de bullying apresenta é a falta de vontade de ir para a escola. Muitas vezes eles apresentam mudanças repentinas de humor, quando se fala em assuntos relacionados à escola. Os jovens podem apresentar comportamentos de automutilação, ideações suicidas, ansiedade ou depressão, problemas para dormir ou distúrbios alimentares. Outro sinal que a família pode observar é o aparecimento de machucados ou ferimentos inexplicáveis.
O que os pais devem fazer para proteger seus filhos do bullying escolar?
1. Estabeleça uma comunicação aberta e honesta com seu filho. Pergunte regularmente sobre sua experiência na escola e incentive-o a falar sobre problemas que possa estar enfrentando, como bullying.
2. Alerte os professores e a equipe da escola sobre a possibilidade de bullying. A equipe da escola deve acompanhar de perto as situações dos alunos para identificar e prevenir o bullying.
3. Ensine as crianças a denunciar o bullying. Ensine aos seus filhos como relatar o bullying de maneira segura e eficaz.
4. Estimule seu filho a desenvolver um forte senso de autoestima. Ensine-lhes a serem assertivos e a não aceitarem tratamento abusivo.
5. Ensine-lhes a buscar apoio. Oriente seus filhos a buscar ajuda na escola, identificar as pessoas ou departamentos na escola que podem ouvir e apoiar suas reivindicações. Ensine aos seus filhos que não é covardia pedir ajuda.
6. Estabeleça limites e regras claras, como não usar linguagem ofensiva e não tolerar comportamentos agressivos.
7. Fale com outros pais sobre o bullying. Compartilhe suas preocupações e incentive-os a criar ambientes seguros para seus filhos.
8. Se você notar mudanças comportamentais, procure ajuda profissional.
É importante pontuar que existem várias ações que os professores e as escolas podem fazer para combater essa prática, como por exemplo: promover o diálogo aberto sobre o tema, incentivando e ajudando os alunos a compreender os diferentes tipos de bullying e seus efeitos; estabelecer e implementar políticas claras de prevenção; criar ambientes de aprendizagem seguros e inclusivos; estimular a responsabilidade dos alunos, incentivando-os a falar e denunciar atos de bullying; promover atividades que incentivem a compreensão e o respeito mútuo entre os alunos; incentivar discussões sobre o respeito às diferenças e a prática da tolerância e inclusão social, bem como desenvolver programas de discussão para ajudar os alunos a entender, expressar e lidar com sentimentos como raiva, medo e tristeza.
A escola pode ainda, oferecer treinamento adequado aos professores e funcionários para que eles possam identificar e lidar com casos de bullying, monitorar o comportamento dos alunos e buscar possíveis sinais de que isso possa estar acontecendo.
O bullying nas escolas é um problema que precisa ser tratado com urgência. O crescimento desse fenômeno é alarmante e as consequências para as vítimas são devastadoras. Lembrando que os agressores também precisam ser identificados e tratados, pois em algum contexto de suas vidas eles também foram vítimas, e seu comportamento agressivo é indicador dessa condição. Por isso, é fundamental que professores, diretores e pais trabalhem juntos para enfrentar essa realidade.
*O texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora