A portabilidade de crédito no Brasil permite transferir dívidas do cheque especial, crédito consignado, crédito pessoal, financiamento de imóveis ou veículos de uma instituição para outra.
A maior concorrência no mercado de crédito, sobretudo para reduzir os juros praticados, e por consequência, melhorar as finanças dos clientes, estão no cerne da portabilidade de crédito. Mas na prática, a portabilidade de crédito ainda não deslanchou!
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Desde o início da operacionalização da portabilidade de crédito, nos moldes que conhecemos atualmente, de meados do 1º semestre de 2014 até o final de 2022, foram realizados 54,7 milhões de pedidos de portabilidade de operações de empréstimos e financiamentos, mas foram efetivados 22,4 milhões, portanto, 41,1% do total, conforme dados do próprio Banco Central.
À primeira vista, este número pode parecer muito, mas não é. Ao compararmos os pedidos portabilidade de crédito desde o início da regulamentação, com o número de adultos que tem relacionamento bancário (163 milhões de brasileiros)*, percebemos que estamos longe do ideal.
O montante de recursos objeto da portabilidade de crédito deixa ainda mais claro o potencial de avanço da portabilidade. Os dados disponibilizados, pelo Bacen, mostram que o valor total portado, de 2014 até 2022, foi de R$ 210,5 bilhões. Este valor representa apenas 6,6% de todo o saldo de crédito das pessoas físicas no Brasil**.
Pesquisa da Zetta, entidade que congrega empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros digitais, apresenta um panorama da portabilidade (salário e crédito) no Brasil, e expõe os diferentes desafios a serem enfrentados, mas também soluções para um sistema financeiro mais eficiente.
De acordo com pesquisa, o desconhecimento da portabilidade de crédito é de 60%, ou seja, seis em cada dez bancarizados, não conhecem essa possibilidade. Para as pessoas das classes D/E, o desconhecimento é ainda maior, cerca de 66%.
Para quem conhece sobre a portabilidade de crédito, o problema é a burocracia.
Segundo a pesquisa divulgada, 16% da população bancarizada entrevistada já tentou fazer portabilidade de crédito (6%) ou de salário (10%). A burocracia, problemas relacionados à documentação exigida e à demora para aprovação foram as principais dificuldades apontadas entre aqueles que não conseguiram finalizar o processo.
O interesse das pessoas bancarizadas em fazer portabilidade de crédito, segundo a pesquisa, é baixo, pois cerca de oito em cada dez (80%) não demonstrou interesse. O desinteresse pode estar atrelado ao desconhecimento da portabilidade, dos procedimentos para sua efetivação, bem como dos juros elevados.
Com a Selic nas alturas, os bancos possuem dificuldades em oferecer juros mais baixos. Para se uma ideia deste efeito, quando a Selic estava em 2,25%, no mês de julho de 2020, foi realizado portabilidade de crédito no valor de R$ 5,0 bilhões no Brasil. Em dezembro de 2022, com a Selic em 13,75%, a portabilidade no País foi de R$ 973,7 milhões.
A opinião das pessoas sobre portabilidade é avaliada como positiva e que ajuda na hora de conseguir melhores condições para a assinatura dos contratos de empréstimos e financiamentos. Contudo, a maior parte atribui o processo complicado.
No entanto, 70% dos entrevistados responderam que com certeza fariam portabilidade se o processo fosse tão simples quanto fazer um Pix.
O Open Finance, que está em implantação, tem como escopo promover impactos positivos no mercado de crédito, e no caso, a portabilidade pode finalmente decolar, possibilitando juros mais baixos nas operações de empréstimos e financiamentos.
Grande abraço e até a próxima semana.
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor
Para saber mais sobre a portabilidade de crédito, consulte a página do Banco Central
* dados de 2021
** saldo de crédito das pessoas físicas em dezembro de 2022