Cearenses têm dívida recorde com Sistema Financeiro; veja números

Legenda: Foco dos trabalhadores é usar dinheiro do FGTS para pagar dívidas
Foto: JL Rosa

A economia cearense apresenta, nos últimos anos, crescimento do nível de atividade superior ao Brasil. As finanças públicas equilibradas, que permitem a realização de investimentos; e um ambiente de negócios privado mais dinâmico; são as principais forças que catalisam o desenvolvimento do Ceará.

Contudo, existem outras variáveis econômicas, que possuem sinergias entre os níveis nacional e local, por serem de natureza macro, trazem sinais de alerta, como a inflação, o nível de emprego, e para a coluna desta semana, caro leitor, vamos tratar sobre o crédito.

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Qual a dívida dos cearenses com o sistema financeiro?

O saldo de crédito das empresas e famílias cearenses superou pela primeira vez na história a marca de R$ 100,0 bilhões no final do ano de 2021, conforme publicado recentemente pelo Banco Central em suas estatísticas monetárias e de crédito.

Veja ranking de saldo de crédito - Nordeste - R$ bilhões - dez/2021

  1. Bahia: R$ 166,1
  2. Pernambuco: R$ 101,8
  3. Ceará: R$ 100,5
  4. Maranhão: R$ 62,8
  5. Paraíba: R$ 44,2
  6. Rio Grande do Norte: R$ 43,2
  7. Piauí: R$ 35,0
  8. Alagoas: R$ 32,5
  9. Sergipe: R$ 26,7

O volume de crédito, embora seja recorde, ainda demonstra estar em consonância com o tamanho da economia do estado. O montante de dívidas no Ceará, quando comparado ao nosso PIB(*) do ano passado, ficou em torno de 52,5%, enquanto que no Brasil foi 54,0%. No Nordeste, os três estados de maior valor em dívidas, são exatamente as três maiores economias regionais (Bahia, Pernambuco e Ceará).

Ou seja, em termos de volume, estamos “em linha” com o Brasil e o Nordeste. Apesar do volume total de crédito, de certa forma adequado, existe um fator que preocupa bastante.

O fator preocupante do crédito no Ceará

Se pedíssemos “traz a conta” nas agências bancárias, somente das pessoas físicas cearenses, o “boleto” seria de R$ 62,8 bilhões. Portanto, o saldo devedor famílias com os contratos de empréstimos e financiamentos com o sistema financeiro é quase 2/3 do crédito total. Este montante também é recorde!

Além do peso das dívidas, a velocidade de crescimento do endividamento das famílias é grande sinal de alerta. Nos últimos 4 anos, a dívida das famílias cearenses cresceu 71,5%. O saldo devedor das empresas no Ceará, neste mesmo período, subiu em 13,6%.

E tem mais uma preocupação. O crédito para as famílias, em grande medida, está fluindo para operações de crédito pessoal e cartão de crédito, que é direcionado para equacionar o orçamento das famílias. Este é um sintoma inquietante das finanças pessoais atualmente, em que a renda, corroída pela inflação, e deteriorada pela pandemia, está sendo insuficiente para honrar os compromissos do orçamento familiar.

A aparente boa notícia é que esta dinâmica de crescimento das dívidas dos cearenses não promoveu, pelo menos por enquanto, elevação significativa dos valores inadimplidos com o sistema financeiro.

A taxa de inadimplência das pessoas físicas no Ceará, apurada pela relação entre o saldo total das operações em que há pelo menos uma prestação em atraso superior a noventa dias, segundo o Banco Central, encerrou o ano de 2021 em 3,63%. Em maio de 2020, com a pandemia promovendo estragos severos na economia, a inadimplência era de 4,84%.

Será que estamos no efeito bola de neve das dívidas? Fica a reflexão.

Estejamos alerta com esse fenômeno de crescimento dívidas das famílias, especialmente pelo recente ciclo de alta da taxa básica de juros da economia, que deve potencializar ainda mais essa dinâmica.

Grande abraço e até a próxima semana.

(*) PIB estimado pelo IPECE para o ano de 2021: R$ 191,5 bilhões

Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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