O que deveria vir primeiro: a taxa do lixo ou a educação ambiental/comportamental?

Ninguém duvida que, sem recursos financeiros, o “lixo” não pode ser recolhido, tratado e depositado. Todavia, gostaria de problematizar “a ordem dos fatores” para a solução dessa equação.

A criação da taxa de lixo em Fortaleza, além de toda a antipatia social que a medida arrecadatória gerou, trouxe a nós a oportunidade de pensar sobre uma questão: exceto a criação de taxas e multas, quais são as estratégias que Fortaleza pode gestar afim de produzir nova mentalidade nos seus cidadãos em relação a maneira como utilizamos os recursos naturais/artificiais em tão populoso assentamento humano?

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Por vezes esquecemos que nenhum espaço urbano é autossuficiente e desconhecemos as enormes infraestruturas utilizadas para importar energia, água, alimentos e exportar/tratar resíduos. Tanto as obras de engenharia como tais bens são caríssimos, e, em muitos casos, extremamente escassos. Qualquer ação que resulte em mau uso ou desperdício, tende a impactar ambiental e economicamente toda a urbe. Está aí, o primeiro grande desafio: fazer chegar a toda a população essa informação.

No entanto, mesmo a transmissão cotidiana e sistemática de informações, depara-se com a dificuldade de instituir outros hábitos, diferentes do modelo de sociedade do desperdício com a qual, há anos, nos envolvemos e contribuímos. É essa mentalidade ultrapassada e insustentável a ser atacada, caso contrário, continuaremos produzindo mais e mais resíduos (e mais e mais taxas).

Mesmo Fortaleza sendo uma cidade localizada em região semiárida, marcada pela irregularidade de chuvas, esquecemos de cuidar, com carinho, dos recursos hídricos, principalmente, os potáveis. Lavar a calçada, fato muito corriqueiro na capital, deveria ser prática abolida.

Vazamentos na rede de água? Nem pensar! Nenhuma nova construção, comercial ou residencial, deveria ser autorizada sem um eficiente sistema de reuso dos recursos hídricos e energéticos. Aos antigos condomínios e plantas comerciais, prazo justo poderia ser estabelecido para adequação tecnológica. Todos ganharíamos!

E no caso dos resíduos sólidos? Ninguém duvida que, sem recursos financeiros, o “lixo” não pode ser recolhido, tratado e depositado. Todavia, gostaria de problematizar “a ordem dos fatores” para a solução dessa equação. Fico a pensar: qual foi o plano de educação ambiental/comportamental tocado pela gestão pública municipal ao longo destes anos? Essa não consistiria em medida conveniente para, antes de taxar, criar uma nova mentalidade na relação entre os habitantes e a produção [infindável] de resíduos?

Comumente, acompanho a programação dos canais de TV públicos da capital e não percebo campanhas publicitárias de educação ambiental ou emissões educativas com foco na cidadania ambiental-urbana. Assim, esses mecanismos são timidamente explorados na construção de conhecimento sobre a cidade e seus problemas.

Como alternativa, vejo na rede de educação pública forte potencial para instituir diferentes paradigmas socioambientais em nossa sociedade. As escolas, equipamentos públicos mais capilares na sociedade, são o centro cultural dos bairros e importantes laboratórios para a transformação social. A partir da comunidade escolar é viável a construção de práticas capazes de mudar, pouco a pouco, o modo como utilizamos, tratamos e depositamos tudo o que consumimos.

Essa mudança de mentalidade exigirá alterações nos bens produzidos pelas empresas (dos produtos às embalagens) e, simultaneamente, exigiria do planejamento urbano ações ambientalmente criativas e socialmente mais inclusivas. Essa é a meta: sair de uma sociedade do desperdício-taxativa para uma "sociedade consciente-autorresponsável".

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