Um colunista, em cada texto que escreve, luta contra si para não cair na repetição. Falar do mesmo assunto ou acioná-lo diversas vezes é bem cansativo para quem escreve e, principalmente, para quem lê. Ademais, discutir o óbvio, para alguns é falta de criatividade, para outros, e a considerar o tempo atual, nunca foi tão decisivo para a vida social no nosso País.
Fiz todo esse preâmbulo, para pedir licença ao leitor e voltar ao tema do uso e apropriação dos espaços públicos.
Durante os períodos pré-eleitoral e eleitoral, assistimos (e muitos participaram) de atos pró e contra os seus candidatos favoritos. A ocupação dos espaços públicos para manifestação de pautas políticas e defesas de ideais é o que esperamos para uma sociedade civil madura e capaz de participar da política local, regional e nacional.
Os espaços públicos representam uma parte do que é a essência da cidade. Um espaço aberto, próprio para a exposição de temas cruciais, representativos para maiorias e para minorias. Nesses termos, o espaço público é lugar do poder, onde os campos de forças dos distintos segmentos sociais são exibidos à sociedade de modo geral.
Ocupar o espaço público significa trazer luz a um debate. Serve, também, para tentar convencer aos demais setores sociais a abraçar essa ou aquela causa. Esse é um direito e gozo próprio de uma sociedade democrática e respeitosa, por isso devemos lutar dia a dia para a manutenção dessas condições de sociedade livre, republicana e empática.
Contudo, no século XXI, em meio ao mais extenso período democrático que nosso País já aproveitou, é triste deparar-se com o que hora tenta-se impor, inclusive utilizando o espaço público como trampolim e palco.
Sem meias palavras, refiro-me aos atos criminosos e golpistas desenrolados pós-eleição. Por parte dos “manifestantes”, percebemos um total enviesamento dos valores democráticos e do direito à liberdade de expressão.
Há contradições enormes nesses movimentos. Ao ocupar praças e pedir quebra das regras do jogo político chega-se a um ponto inegociável e inaceitável para um Estado regido por uma Constituição, um pacto social.
E vão além, quando, esses brasileiros, clamam por intervenção “federal” (na verdade querem dizer intervenção militar), querem estabelecer regime controlador da sociedade fora das regras da Carta Magna.
Em síntese, tais pautas são atentados aos espaços públicos, haja vista impedirem a realização das condições básicas a eles impregnadas, ou seja, são espaços de todos; onde o rodízio de poder é a marca do que é republicano. O democrático é colorido, é laico, é social. Assim também deve ser o espaço público e as pautas lá defendidas.
O espaço público das nossas cidades já serviram às manifestações decisivas para conquistas importantes no Brasil, inclusive o direito ao voto, como foi a campanha das Diretas Já! Agora, o que vemos é o contrário.
A sociedade brasileira deve continuar lutando para que todos os cidadãos possam continuar utilizando os espaços públicos para suas reivindicações, desde que sejam democráticas.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor
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