Um duelo de memórias, de contextos diferentes e de um bicampeonato invicto. As lembranças se fizeram presente na Arena Castelão, ontem, em Ceará x Bahia. O Vovô, enfim, venceu a primeira na Série A do Campeonato Brasileiro, justamente contra o tricolor baiano que também foi superado na final da Copa do Nordeste nesta temporada: agora são três vitórias em quatro confrontos em 2020.
Em si, a grande importância é o resultado, com a equipe alcançando quatro pontos no Brasileirão, apesar de seguir na zona de rebaixamento - ainda é o 19º. O placar por 2 a 0, com gols de Cléber e Mateus Gonçalves, foi um reencontro com a identidade daquele Alvinegro do Nordestão.
O 'DNA' imposto por Guto Ferreira tinha no cerne a defesa sólida, um elenco com vigor físico, muita marcação e transição. Ao lado dos elementos, um time extremamente efetivo: errar contra o Ceará no torneio regional era fatal.
Esse foi o roteiro do confronto. No painel tático, o 4-2-3-1 foi mantido como em todas as outras partidas do Brasileirão, mas agora tivemos Vina como meia articulador e Fernando Sobral escalado na ponta direita. A dupla era (é) responsável pela dinâmica da marcação e também do ataque, sendo o pulmão e o cérebro de um organismo mutável.
Tudo porque o Alvinegro alternava as linhas para controlar as ações, mesmo sem a posse de bola majoritária: 62% x 38%. Quando pressionado, se fechava no 4-2-2 e atrapalhava a saída. Ao atacar, recuava em blocos para ocupar o espaço cedido pelo Bahia, como em uma emboscada do coletivo.
Assim, a proposta de Guto foi efetiva. A resolução das jogadas envolvia mais simplicidade, escolhas mais rápidas e, sim, vantagem no duelo aéreo. A qualquer risco oferecido ao sistema defensivo, a equipe travava o duelo no meio-campo em faltas táticas, por isso o excesso: 21 x 7. Conquistadas com apenas amarelo em William Oliveira.
Os números explicam o resgate de um trabalho desenvolvido na competição regional e alterado em estrutura para o Brasileirão. A partir do momento que assumiu novamente ser um time mais reativo, enfatizando a organização e as individualidades, o Ceará foi perigoso.
Não cedeu contra-ataque, finalizou no gol (7 de 11 chutes) e teve a leitura necessária para vencer. A entrada de Mateus Gonçalves, um velocista, externa tudo isso. Ocupou uma faixa nas costas dos laterais e avançou contra espaço livre dos defensores. A liberdade foi tanta que driblou até o goleiro.
A partida também serviu para enfatizar pontos a melhorar do plantel para as ideias de Guto. Se o Bahia sacou Gilberto e o substituiu por uma peça com mesma característica (Fernandão), a comissão técnica alvinegra tirou Cléber e ficou sem atleta de referência.
Por isso, sofreu na reta final. Até o segundo gol, o time estava sob domínio do Bahia e acuado. Os lançamentos não tinham uma peça para reter a bola no ataque, fundamento que Rafael Sóbis não executa com a facilidade do outro centroavante.
O mesmo se aplica a Vina. A presença do meia impõe uma movimentação melhor. Quando cansou, o fôlego não foi reposto de modo imediato porque não há peças prontas fisicamente na equipe.
Então, foi perceptível a queda de ritmo na etapa final. Wescley e Felipe Silva, com lesões recentes, não o substituem na armação, obrigando Guto a pensar em soluções como Lima e Sobral no setor. A qualidade técnica existe, mas a carência é por característica, e a nova comissão técnica tem no 4-2-3-1 a formação ideal.
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