Onde você coloca o sentido da sua vida ?
Muitos não tomam posse da sua jornada e delegam a outrem que destinem o sentido do seu existir
Em diferentes momentos da vida, nos deparamos com essa pergunta e as respostas que oferecemos a ela norteiam o destino que daremos aos nossos desejos e desconfortos.
As respostas se transformam, de acordo com o que mudamos. Influenciados pelo momento da vida, relações, contexto social, perdas, conquistas, pelo que construímos a respeito da imagem que temos de nós e pelas fantasias que nos orientam, descobrir o que nos move e em que direção seguimos é imprescindível para estarmos bem conosco.
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Muitos não tomam posse da sua jornada e delegam a outrem que destinem o sentido do seu existir. Assim, o sentido passa a habitar projetos externos e objetos sem densidade. Para alguns, o sentido é tão externo e material que precisa ser comprado diariamente, chancelado por "likes", por aquisições materiais, desalojado a vida de uma sentido na experiência de ser.
Assim, vários experimentam a sensação de um vazio ou o correr constante sem nem saber com que objetivo, alimentados por ideias e projetos de outrem que são frequentemente incoerentes com sua história.
Em uma procura desenfreada por consumo, acumulação e produtos que não oferecem bem-viver, ficam desprovidos do sentir, experimentam apenas a excitação do consumo ou a anestesia para suportar a vida, construindo próteses existenciais.
Em uma vida podem caber muitos sentidos: trabalho, afetos, estudo, transformação social, amor, solidariedade, arte, sabedoria, desenvolvimento pessoal e coletivo. O sentido é uma construção. Um encontro de uma pessoa com o encaixe no seu viver, é uma afinação da alma com o tempo. O sentido precisa ter uma conexão interna, profunda, que lhe dê a sensação de conforto e alimente a esperança.
Onde você coloca o sentido da sua vida, orienta seus desejos, suas ações, seus pensamentos, suas relações? Se o sentido da sua vida for apenas material, provavelmente não verá sentido em priorizar afetos, vínculos, pessoas, experiências onde o ganho será simbólico e imaterial. Se o sentido de uma existência estiver comprometido com a vida, com a justiça, com a esperança, com a ética, com a sabedoria, com o cuidado, outras forças e valores atuarão construindo consistência em projetos que atravessam superficialidades.
Muitas vezes, o sentido de uma vida pode claudicar, oscilar, pode esmaecer em força e vitalidade, pode ficar refém da precarização da vida. Nessas horas pode ser necessário reinventar-se, redescobrir o possível, reencontrar as cores, os gestos, os encantos do que pode ter se perdido.
É fundamental sempre achar um gosto por si, um deslumbramento com os detalhes e as delicadezas que existem no viver. Lembrar que os outros enriquecem nossos sentidos, que uma vida autocentrada pode ser muito triste e solitária, que conexões, vínculos, amizades, presença na comunidade, fortalece o sonho e a alegria. Compreender que adoecimentos afetam o sentido de uma vida, reorientando ou confundindo e que pode ser necessário ajuda profissional.
Que para descobrir essa resposta precisará dedicar tempo, para pensar sobre si, no que tem feito, no que deseja, no que precisa mudar, nas incoerências. Que não adianta procurar culpados ou responsáveis que estarão apenas no reflexo do espelho lhe inquirindo sobre o que tem feito consigo e por si.
Será que o sentido da sua vida contempla a solidariedade, a fraternidade? Será que o sentido da sua vida contempla o amor e o contribuir com o desenvolvimento dos outros? Será que não está fugindo da responsabilidade com seu percurso e estancando em dores e mágoas que já merecem perdão e elaboração? Será que o sentido da sua vida envolve a alegria compartilhada? Será que envolve o acúmulo de bens ou do bem? Será que envolve o crescer junto? Será que envolve o compromisso com a vida do outro? Será que não é hora de reposicionar sua existência?
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.