Enquanto o Governo Federal não divulga o número exato de doses de vacina contra a Covid-19 para cada um dos estados e os gestores estaduais não divulgam o número exato de doses para cada um dos seus municípios, quem tem muito dinheiro já busca se imunizar logo no exterior. O Ceará está a menos de 8 horas de voo direto até Miami (sul dos EUA. Por lá, moradores já começaram a ser vacinados, em meio à polêmica dos estrangeiros, como brasileiros, que chegam para furar a fila e conseguir uma dose em hospitais privados. Pagando o equivalente a R$ 180 mil por ano a um clube britânico de super-ricos, já é possível também viajar até os Emirados Árabes Unidos e Índia, se hospedar em um hotel de luxo e receber sua vacina no braço.
Seria muita ingenuidade imaginar que os mais ricos vão ficar aguardando as definições governamentais na busca por proteção e evitar recorrer a consultorias médicas de luxo no exterior. O jornal americano "Miami Herald" noticiou que alguns hospitais na Flórida não colocam dificuldades para imunizar estrangeiros e que brasileiros, argentinos e canadenses são os que mais procuram o imunizante. Os hospitais Baptist Health South Florida e Jackson Health System informaram que não exigem provas de residência dos pacientes para marcar a aplicação das doses.
"Alguns brasileiros que vivem na Flórida planejam trazer seus parentes para os EUA a fim de tomar a vacina", informa a publicação.
O jornal conta a história da brasileira Patricia Medici, dona de uma agência de seguros em Miami, que aguarda a chegada de seus familiares do Brasil para se vacinarem na cidade americana. Ela culpa a indefinição do Governo brasileiro para justificar a medida. Entre os residentes de Miami, há a crítica a esse "jeitinho de achar atalhos" dos sul-americanos, citando que os moradores pagam impostos, enfrentam dificuldades para marcar sua vacinação, enquanto estrangeiros, que não pagam impostos, chegam para ser imunizados.
Causou controvérsia a história de uma jornalista argentina de TV, Yanina Latorre, que conseguiu que sua mãe fosse vacinada com o composto da Pfizer em Miami, enquanto ambas estavam aproveitavando uma viagem de turismo nos EUA, onde a vacinação oficial começou apenas para quem tem mais de 65 anos. O caso causou revolta de alguns internautas, pois ela exibiu tudo em sua conta no Instagram. "A questão é que eu, como residente dos EUA, estou, com meus impostos, pagando pela vacinação de Yanina", reclamou Cecilia Maier, uma argentina que vive em Orlando.
O "turismo da vacina" não é exclusividade dos EUA. Membros de clubes privados de super-ricos estão voando para os Emirados Árabes Unidos (onde fica Dubai e Abu Dhabi) e para a Índia para receber a imunização contra o novo coronavírus. O Knightsbridge Circle, por exemplo, cobra 25 mil libras esterlinas (equivalente a R$ 180 mil) como anualidade de membros, que inclui a vacina contra a Covid-19, informou o jornal britânico "The Telegraph" . Cerca de 20% de seus cliente voaram para Dubai e Abu Dhabi para as férias, quando vão aproveitar para ser vacinados com o imunizante da Pfizer. Os que foram para a Índia vão receber a vacina da Oxford/AstraZeneca. Eles viajam em jatos privados e se hospedam em hotéis de luxo, enquanto aguardam a hora da vacina.
No Brasil, há um esforço para que as clínicas privadas recebam autorização para vender vacina por meio de uma negociação com a Índia. Por enquanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) teme que incluir o setor privado nos esforços de imunização pode agravar desigualdades sociais, criando um abismo entre pobres e ricos, já que os laboratórios tenderiam a privilegiar os pedidos particulares do que as encomendas governamentais para a distribuição gratuita.
Não podemos abrir mão da infraestrutura das clínicas e hospitais privados para acelerar as iniciativas de imunização. Os governos têm de encontrar os melhores meios de garantir a vacina para todos, sem permitir que se crie um mercado paralelo e clandestino de acesso ao imunizante.
Pesquisando nos sites das companhias aéreas, é possível encontrar passagem de Fortaleza para Miami em torno de R$ 4 mil (ida e volta) para os próximos meses, embora as restrições aos voos internacionais ainda permaneçam e o ritual de entrar nos EUA seja mais demorado e com maiores riscos de o turista ser barrado. Miami é a cidade americana onde mais se acha cearense legalizado. Antes de comprar uma passagem, consulte este link do site da Iata (associação internacional da aviação comercial) para saber o que cada país do mundo exige para autorizar a entrada do visitante estrangeiro. A Anvisa impõe também o preenchimento de uma declaração da saúde do viajante.
Para entrar nos EUA, por exemplo, é exigida dos estrangeiros a apresentação de teste negativo de Covid-19, realizado com 72 horas de antecedência. Um teste de Covid em Miami, por exemplo, custa cerca de R$ 530 (cerca de US$100). Em Fortaleza, acha-se teste por R$ 280. Você precisa de um novo exame para retornar ao Brasil. Não esqueça de incluir o período de estadia que inclua a data de recebimento da segunda dose do imunizante (pelo menos duas semanas após a primeira dose). Ou seja, prepare o bolso e a paciência em aeroportos se você entrar na jornada de buscar vacina no exterior.
Atualmente, nos EUA, há críticas quanto à organização das filas de vacinação, com dificuldades para marcar o atendimento devido à burocracia, como noticiou o "New York Times". O Governo brasileiro promete para a próxima semana aprovar a primeira vacina para uso emergencial no País.