Potencial divisor de águas da economia cearense, o hub de hidrogênio verde (H2V) no Complexo do Pecém vem atraindo bastante atenção de potenciais e experientes investidores estrangeiros, revela a diretora comercial Duna Uribe com exclusividade ao Diário do Nordeste. Segundo a executiva, desde o lançamento do projeto pelo Governo, o Complexo recebe muitos interessados e já negocia novos memorandos de entendimento.
"Nós temos (visto) muito interesse, muito mesmo. A maioria das empresas são internacionais, que já têm algum tipo de experiência na parte de energia, ou, principalmente, na produção de hidrogênio. Mesmo antes da assinatura do memorando pelo governador, a gente já vinha conversando com algumas empresas. Mas, realmente, quando foi feito esse lançamento que nós pudemos divulgar para o mundo todo que estávamos, digamos assim, abertos a receber manifestações de empresas que estivessem interessadas", destaca Uribe.
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Algumas dessas empresas aguardam o leilão de energia previsto pela Alemanha em meados de maio e junho para concretizarem seus planos no Pecém, explica a executiva. Assim como acontece no Brasil, o governo alemão contrata lotes de energia conforme a demanda de consumo projetada no futuro - mas desta vez, com o hidrogênio verde como fonte. Uma vez fechados os contratos de compra, os investidores podem começar os trabalhos para produzir a energia aqui.
Essas empresas são fundamentais para concretizar o objetivo de criar um cluster industrial de produção de hidrogênio verde no Pecém, isto é, um agrupamento de empresas do setor, com fornecedores e outros negócios associadas ao ramo, como armazenamento e distribuição. E para isso, o Complexo do Pecém identificou uma área de 200 hectares na Zona de Processamento e Exportação (ZPE) do Ceará.
"É importante que todos entendam que há espaço para muitas empresas. Com o hidrogênio verde, a gente fala da cadeia de valor - uma empresa em si não consegue responder pela cadeia ao todo, ela precisa se formatar ou ter vários consórcios atuantes", explica a executiva. A ideia é que este espaço abrigue uma complexa cadeia produtiva - inclusive com uma planta de dessalinização - com capacidade de eletrólise de 5 gigawatts (GW) e de produção de 900 mil toneladas de H2V.
A maior parte da produção deverá ser exportada para a Europa, principalmente, para a Alemanha. Mas paralelamente à criação desse corredor logístico entre o Pecém e o Porto de Roterdã, nos Países Baixos, para viabilizar esse projeto, o Complexo também trabalha o desenvolvimento da demanda local. O diagrama acima, que ilustra o projeto do hub, foi apresentado nesta semana pela diretoria do Complexo do Pecém a players e entidades do setor produtivo para ilustrar os possíveis usos do hidrogênio verde no próprio Estado.
As indústrias, a área residencial, os meios de transporte e o Aeroporto de Fortaleza são apontados como possíveis usuários do hidrogênio verde, cuja distribuição partiria de dutos. "Essa reunião foi muito importante para informar os empresários que estão no Complexo da solução que o hidrogênio verde oferece", destaca. "São vários usos".
Com uma perspectiva conservadora conforme é de costume do sócio holandês do Complexo do Pecém, a executiva explica que este deve ser um ano de estudos e que apenas no próximo os memorandos de entendimento devem ser postos em prática.
"Além das próprias empresas estarem fazendo seus estudos, o grupo de trabalho formado para o desenvolvimento do projeto (com a Fiec e a UFC) também irá contratar uma consultoria para avaliar melhor qual é o potencial do Ceará com o hidrogênio verde. Então esse ano realmente vai ser de estudos e entendemos que, concretamente, será a partir de 2022", prevê Uribe.
Como destacou a economista Tânia Bacelar em entrevista na semana passada, com projetos como este o Ceará age com a visão para a indústria do século XXI - inovadora, tecnológica, renovável - deixando para trás obsessões já quase obsoletas da indústria do século XX - como a antes tão sonhada refinaria.