Norte e Nordeste já abrigam 40% dos casos de Covid-19 no Brasil
Pandemia, que começou pelo Sudeste em fevereiro, desloca-se para regiões mais pobres do Brasil, que bateu novo recorde de mortes, superando a China, origem do novo coronavírus. Presidente Bolsonaro comenta: "E daí?"
A tragédia brasileira da Covid-19 começa a ganhar contornos de um drama das regiões mais pobres do País, depois de ter iniciado, em fevereiro, como um problema restrito ao Sudeste. Os casos de contágios do Norte e Nordeste, somados, já representam mais de 40% do total de pacientes registrados no Brasil. Essa virada ocorre no momento em que o saldo nacional de óbitos (5.017) superou, ontem, o da China (4.633), origem da pandemia.
A ampliação dos testes de detecção nas últimas semanas ajuda a explicar o aumento acelerado de casos oficiais no Norte e Nordeste, que demoraram a receber os exames para aplicação em seus moradores.
As deficiências do sistema público de saúde nessas regiões tornam o enfrentamento à Covid-19 dramático. É o que se vê no Amazonas, que tem quase 100% dos leitos de UTI ocupados e já totaliza 351 mortes, com sua capital Manaus sofrendo um colapso funerário. Nesta terça-feira, a Prefeitura voltou atrás na decisão de enterrar caixões empilhados, o que revoltou famílias, e decidiu manter os enterros em valas comuns, trincheiras abertas para comportar um número maior de corpos.
O Sudeste segue como o líder em número de casos, acumulando 36.068 pacientes diagnosticados com a doença, o que representa 50,2%, abaixo dos 59,5% de 20 dias atrás.
Já o Nordeste tinha, até ontem, 20.665 contágios (28,7% de todo o saldo nacional), enquanto o Norte registra 8.745 pacientes (12,2% do total do Brasil). Há 20 dias, as fatias eram bem menores (18% no Nordeste e 7,7% no Norte).
Brasília
Em entrevista na porta do Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro disse que cabe ao ministro da Saúde, Nelson Teich, explicar os números do boletim divulgado, ontem, apontando um novo recorde de óbitos no País.
"Eu não falo sobre a questão da saúde. Talvez eu o leve na quinta-feira para fazer uma live aqui. Ninguém nunca negou que teríamos mortes".
Bolsonaro afirmou que lamenta, mas não tem o que fazer. "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre?", afirmou ao ser questionado sobre os números.
Até o ídolo de Bolsonaro, o presidente dos EUA, Donald Trump, falou, nesta terça-feira, do Brasil. Ele afirmou que "acompanha de perto" o que chamou de "surto sério" de novo coronavírus no País. "O Brasil tem um surto sério, como vocês sabem. Eles também foram em outra direção que outros países da América do Sul, se você olhar os dados, vai ver o que aconteceu infelizmente com o Brasil", disse Trump, que cogita suspender voos para o país.
Pobreza
O deslocamento das atenções para as regiões mais pobres já é percebido em outras partes do mundo. Não é exclusividade do Brasil.
A América Latina está como a "Europa há seis semanas" em relação ao avanço da Covid-19, portanto, se espera um crescimento do número de casos nas próximas semanas, alertou o vice-diretor da Organização Panamericana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa.
Barbosa indicou que "o que se pode esperar para as próximas semanas é o crescimento do número de casos", em um momento em que há cerca de 8.900 mortes na região e mais de 176 mil casos confirmados.
De acordo com a Opas, os países mais afetados com novos casos foram - além dos EUA - Brasil, Canadá, Equador e México. A diretora da Opas, Carissa F. Etienne, indicou que o aumento dos testes permitiram ter um melhor diagnóstico da situação nestes países. "A carga de Covid-19 em nossa região é maior do que as autoridades de saúde puderam informar nas semanas anteriores", afirmou Etienne.