Morre Paulo Mendes da Rocha, o último gigante da arquitetura brasileira

Ele tinha 92 anos. Paulo recebeu o Pritzker, maior prêmio da arquitetura, em 2006

Escrito por Folhapress ,
Paulo Mendes da Rocha
Legenda: Paulo Mendes da Rocha era considerado o maior nome vivo da arquitetura brasileira
Foto: Divulgação

Paulo Mendes da Rocha, que foi o mais brasileiro dos arquitetos internacionais, morreu na madrugada deste domingo (23), aos 92 anos. Ele estava internado em São Paulo, e a morte foi confirmada por seu filho, Pedro Mendes da Rocha. Em atividade desde 1955, foi realmente descoberto pelo mundo quatro décadas mais tarde, quando as imagens da Pinacoteca do Estado e do MuBE (Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia) circularam em revistas estrangeiras.

Desde então, o conjunto robusto que já construíra e as obras que viria a fazer passaram a atrair a atenção da crítica. Sucederam-se os prêmios e reconhecimentos; estudos começariam a surgir na Europa nos anos 2000. Até aquele momento, em 1995, quando já contava 67 anos, Paulo Mendes - assim, pela forma abreviada, se referem a ele os arquitetos - não tinha obras construídas no exterior.

Tivera, é verdade, o pavilhão brasileiro na Exposição Universal de Osaka em 1970. Mas, demolido ao fim do evento, o edifício ficou na memória dos estudiosos somente. O caráter geograficamente restrito de sua obra não impediu que ele recebesse todos os principais prêmios arquitetônicos do mundo.

Em dois anos seguidos, recebeu o Mies van der Rohe de arquitetura latino-americana. O prêmio, dado pela fundação catalã que leva o nome do papa alemão arquiteto do racionalismo arquitetônico, reconheceu, em 1999, o projeto do MuBE e, em 2000, o da Pinacoteca de São Paulo.

Em 2006, tornou-se o segundo arquiteto brasileiro - depois de Oscar Niemeyer, em 1988 - a vencer o Pritzker, apelidado "Nobel da arquitetura", embora nada tenha a ver com a Academia Sueca -é dado pela Fundação Hyatt, americana. Apenas em 2015 sairia do papel seu único projeto no exterior, a sede nova do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.

No ano seguinte, receberia o Leão de Ouro de Veneza e o Prêmio Imperial do Japão. Em 2017, seria a vez da medalha de ouro do Riba (Royal Institute of British Architects). Com a maior parte de sua obra concentrada em São Paulo, quase se poderia dizer que era o mais paulistano dos arquitetos brasileiros de alcance internacional. Mas era capixaba, nascido Paulo Archias Mendes da Rocha em Vitória, a 25 de outubro de 1928.

Obras

O apreço pela clareza estrutural, e mais que isso, pela arquitetura que é estrutura se manifestaria de forma evidente desde sua primeira obra construída, o Ginásio do Clube Athletico Paulistano. A estrutura é uma forma circular na qual seis pilares sustentam por tirantes a cobertura de madeira e telhas metálicas; as laterais abertas dão para uma esplanada.

O brilho desse início se veria obscurecido na ditadura. Paulo Mendes continuava a trabalhar com De Gennaro e a dupla teve realizações importantes, como o Jockey Club de Goiânia, e participou de muitos concursos para obras públicas. Em 1969, Paulo Mendes foi cassado, junto com Artigas e outros 64 professores da USP, pelo governo militar.

Em 1964, fez de sua própria residência uma espécie de experimento. A Casa Butantã, como é conhecida, abrigou entre os anos 1970 e 1990 sua família.

Na década de 1990, sua obra passa a incorporar novamente projetos de grande porte, muitos deles para o setor cultural. Além do já citado MuBE, destacam-se entre estes a Pinacoteca do Estado, que concebeu em 1992 com Eduardo Colonelli, readequando um edifício de 1900 de Ramos de Azevedo, e o projeto original do Museu da Língua Portuguesa, de 2006, instalado na Estação da Luz e desenvolvido com seu filho Pedro.

Em 2017, inaugurou-se em São Paulo o Sesc 24 de Maio. Projetado com o MMBB, insere-se na vida dos calçadões do centro, com 13 andares interligados por rampas e uma piscina com vista na cobertura. Duas grandes obras suas ficaram sem terminar - a Praça dos Museus da USP; que não teve fim por problemas orçamentários, e o Cais das Artes, complexo artístico e museológico em Vitória, paralisado por longos anos devido a imbróglios judiciais.

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