Após interiorização do vírus, estados temem "efeito bumerangue"

Decretos aumentando a flexibilização do isolamento social no País têm desconsiderado os novos casos de infecções da Covid-19, cujo avanço se dá nos interiores, de onde são transferidos pacientes graves para as capitais

Escrito por Redação ,
Legenda: População indígena tem sido um dos grupos mais vulneráveis
Foto: AFP

Quem manteve aberto, agora tem que fechar; quem antes fechou, agora começa a abrir o comércio, mesmo não sendo a hora, conforme os organismos de saúde. O Brasil, continental e diverso, registra diferentes momentos da onda de casos do novo coronavírus em suas cinco regiões, cujos estados diferem no tempo e no pensamento sobre a forma de combate. A judicialização dos decretos tem colocado governos e empresários de lados momentaneamente opostos, enquanto as taxas de isolamento social diminuem.

Em pelo menos 14 Capitais que fizeram reabertura, as infecções aumentaram. Primeiro e terceiro no ranking de incidência da Covid-19, São Paulo e Ceará apresentam sensível melhora dos números e já avançam nas fases de flexibilização, mas aumento de caso nos interiores brasileiros faz comissão científica do Consórcio Nordeste falar em "efeito bumerangue".

Nenhum estado brasileiro alcançou a taxa de positividade em testes para o novo coronavírus recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos critérios seguros para afrouxamento das medidas de isolamento social. Qualquer radiografia do avanço da Covid-19 no Brasil e do procedimento adotado pelos estados terá uma aparente colcha de retalhos.

Na base do cada um por si, os estados estão em diferentes estágios da pandemia, mas para qualquer um deles se nota a reabertura da economia sem que os números de infecções e óbitos pudessem justificar. É o caso de Santa Catarina, no Sul, e Goiás, no Centro-Oeste, que se viram adiando ou regredindo na flexibilização no último fim de semana.

Um dos estudos contínuos da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), em parceria com universidades, trata de como as Unidades Federativas estão evoluindo em relação à positividade para coronavírus na população, cuja taxa em torno de 5% seria a situação possível para a flexibilização do isolamento, conforme orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

"O ideal seria a testagem em massa, mas isso não tem ocorrido efetivamente no Brasil", afirma a pesquisadora Tatiane Sousa, para quem a testagem em massa seria muito benéfica, sobretudo em cidades menores, que agora veem uma escalada de casos de contágio. Essa interiorização tem sido sentida com vigor no Estado do Pará, na região Norte. No mais recente decreto, de 2 de julho, o Governo do Estado, dentro do plano "retoma Pará", flexibilizou o isolamento na Capital, com reabertura de comércio, mas endureceu no interior. Na região do Araguaia, sul do Pará, aumentou a restrição, mas em Salinas, atrativo turístico de veraneio, as praias estão liberadas, ainda que em horário reduzido.

Bumerangue

A interiorização da Covid-19 no Brasil pode ir além: voltar às capitais, para onde uma parte considerável dos pacientes graves é levada. "Este Comitê continua vendo com extrema preocupação qualquer iniciativa de relaxamento social, tanto no Nordeste como no Brasil, que não se baseie nos critérios estabelecidos pela OMS.

A dramática aceleração do processo de interiorização da pandemia indica que tanto a região Nordeste, bem como todo o Brasil, podem estar à beira de experimentar o que foi designado como "efeito bumerangue", afirma em boletim do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, que auxilia os governadores da Região na tomada de medidas.

A região com maior número de mortes por Covid-19 é a Sudeste, com 29.900. O Nordeste registra 21.235 óbitos; o Norte, 10.039; o Centro-Oeste, 2.328; e o Sul, 1.985.

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