Inspiração made in Brazil

Entrevista com Matheus Tomoto, jovem brasileiro que já esteve em Harvard, no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e na ONU (Organização das Nações Unidas).

Legenda: Matheus Tomoto: “Eu queria fazer algo pelo Brasil. Criei a Universidade do Intercâmbio, em que a gente ensina a galera a estudar fora. Minha nova missão é para conseguirmos de fato transformar a educação”.
Foto: Divulgação

Com menos de 30 anos, o engenheiro paulista Matheus Tomoto, que estudou em escola pública e aprendeu inglês sozinho em três meses, hoje é pesquisador da Harvard University. Além de já ter sido aprovado para fazer pesquisa nas 10 melhores faculdades dos Estados Unidos, estagiou no Massachusetts Institute of Technology (MIT), considerada a melhor faculdade de tecnologia do mundo, além de ser embaixador da Youth Assembly da ONU (Organização das Nações Unidas). Atualmente, também trabalha ajudando pessoas que desejam buscar uma oportunidade no exterior. É ele quem conta como mudou de vida.

Diário do Nordeste: Você tem uma carreira meteórica. Como tudo isso começou?
Matheus Tomoto
: Eu não estou no estereótipo dos nerds. Eu tinha tudo para dar errado. Venho de uma família simples. Minha mãe teve depressão e, mais ou menos na época, meu pai, que trabalhava como mecânico, adquiriu uma doença que o impossibilitou de seguir nos trabalhos manuais. Uma cena muito forte que presenciei na adolescência, de longe, foi ver meus pais abraçados, conversando, chorando, questionando o que dariam para comer para a gente no dia seguinte. Então comecei a pensar no futuro, que eu poderia me tornar engenheiro, ganhar uma grana legal. E fui imaginando isso. Meu maior sonho, quando criança, era ser cientista. Então achei que assim daria certo. E o que eu preciso fazer para realizar esse sonho de me tornar engenheiro? Entrar numa faculdade, me formar, entrar numa empresa...

Como você colocou isso em prática?
Comecei a vender produtos de limpeza de porta em porta, na rua, para juntar grana. Quando voltava para casa, começava a estudar para entender esse modelo de vestibular. Eu descobri que, com 16 anos, eu era quase um analfabeto funcional. Metade da minha escola não tinha nem piso, era chão batido. Como era isso que eu conhecia, achava que aquela era a realidade de todo mundo. Acertei cinco questões no simulado da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Então comecei a estudar em casa.

Essa é a fórmula do sucesso?
Bom, dois anos depois consegui passar em alguns vestibulares. Fiquei em Sorocaba (SP) mesmo. Consegui uma bolsa de 100% na melhor faculdade de engenharia da região. Foi minha primeira conquista. Eu achava que não era capaz, e consegui! Fui me envolvendo com tudo: projeto de robótica, programação, estágio em uma multinacional alemã.

E como foi sua primeira ida a outro país? E a questão do idioma?
Fui para a Purdue University (EUA), onde se formou Neil Armstrong. Mas, antes disso, tive que passar na prova do TOEFL [teste de proficiência na língua inglesa requerido para o ingresso em algumas universidades]. Nunca estudei tanto na minha vida. Dormia seis horas por dia. Fiquei três meses estudando todos os dias, inclusive fins de semana e feriados. Paguei a prova bem cara e não passei. Tive mais uma lição importante: a gente não vence sempre! E faz parte. Fiquei muito triste, mas só por uns 15 minutos. Caiu a ficha. Eu já tinha saído do emprego para me preparar para esse teste. Remarquei a prova, passei. Em três meses fui para os Estados Unidos com tudo pago.

Como foram as experiências por lá?
Estudei muito. Nas férias, a galera queria charlar. Enquanto todos iam se divertir, fui tentar uma oportunidade profissional. Entendi como funcionava o estágio nos Estados Unidos. No Brasil, é currículo. Lá, além do currículo, você pode escrever uma personal letter, uma carta pessoal dizendo quem você é. No meu currículo, não tinha muita coisa, mas na minha carta eu contei algo que foi legal: a minha história. Era uma quinta-feira à noite. Mandei e-mail para as dez melhores universidades de engenharia do mundo. No dia seguinte, recebi e-mail de todas me convidando para estudar lá. Yale, MIT, Harvard, Stanford... Foi a realização de um sonho! Fui para o MIT. Fiquei lá. Que faculdade top! Terminei a faculdade nos Estados Unidos.

Você tem um programa de mentoria para ajudar outros estudantes brasileiros a conseguirem oportunidades fora. Conte sobre isso.
Conheci várias universidades fantásticas. Foi então que passei a me questionar: por que existe isso e existem escolas como a que estudei? Isso começou a me intrigar. Voltei para o Brasil, fundei o Inspirando Jovens de Sucesso (IJS), para mostrar que o mundo é pequeno demais para a gente. Recusei um mestrado no MIT com bolsa para fazer isso no Brasil. Em dois anos, tinha mais de 500 voluntários no Brasil fazendo várias ações sociais para mostrar que é possível entrar na universidade.

E depois disso tudo?
Recebi convite para trabalhar na Nasa, enviado por um chinês que estudou comigo no MIT. Mas decidi ir para Harvard trabalhar com drones, inteligência artificial. Eu queria fazer algo pelo Brasil. Recebi e-mail da ONU. Fui um dos selecionados para representar o Brasil numa assembleia da ONU, discutir o papel do jovem nessa sociedade. Foi uma honra. Voltei para Harvard, comecei a me perguntar como consegui essas coisas. Criei a Universidade do Intercâmbio, em que a gente ensina a galera a estudar fora. Minha nova missão é para conseguirmos de fato transformar a educação. Por isso, a ideia de estudar modelos educacionais em Oxford neste ano de 2019.


REALIZE O SEU SONHO
"Não importa de onde você vem, sua situação acadêmica, familiar, financeira. Importa sua postura diante das dificuldades, o quanto você quer ralar para fazer isso acontecer. Tem a pessoa que fica sentada, acomodada, olhando os amigos e os outros realizando os sonhos deles. E tem a pessoa que rala e que realiza. Qual o máximo que você quer chegar na sua vida? Mesmo que seja bobo, pense nisso. Identifique qual o seu sonho e por que você quer isso. Eu queria ser cientista por causa dos meus pais. Todos temos uma chave nas mãos capaz de abrir as portas. O que fazer? Pegar a chave! Todas as oportunidades estão aqui, é só você pegar. Pegue a chave, saia da zona de conforto, levante, ande. Coloque a chave na porta. Faça. Não existe limite para o que a gente pode sonhar, do que a gente pode realizar. Você tem que ser o guardião do seu sonho." Matheus Tomoto