Sexo na gravidez

Mudanças hormonais e emocionais afetam a rotina de relações sexuais no período gestacional. Para algumas gestantes, é tempo de pausa. Para outras, o sexo fica até melhor. Especialistas indicam: quando a gestação é saudável, o sexo é mais do que recomendável. Mas o que fazer quando o psicológico bloqueia?

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(Atualizado às 09:11)

Quando engravidou do Gael Ravi, com 2 anos hoje, a empresária Daniela Viana sentiu toda a libido ir embora. Com enjoo no primeiro trimestre e sem o menor ânimo para comer, foi difícil manter a rotina de relações no início da gravidez. “O segundo trimestre foi chegando e o mal-estar foi passando, mas eram tantas mudanças no meu corpo que eu não me sentia muito à vontade para fazer sexo. Eu e meu marido tentamos algumas vezes, mas eu não me sentia confortável e também não sentia vontade. Creio que por causa das mudanças hormonais eu fiquei com a libido muito baixa”, relata.

Como explica o obstetra Luís Carlos Weyne, os primeiros três meses é o período em que as mulheres mais apresentam alterações na libido. “A grávida passa por alguns sintomas desagradáveis, frutos dessas novidades hormonais que surgem no seu organismo, apresentando, muitas vezes, náuseas, vômitos, tonturas, aversão ou desejo a determinados alimentos, salivação etc. Esses sintomas muitas vezes alteram a libido da mulher”, explica o médico. “Mas essas alterações devem contar com a compreensão do companheiro. O obstetra deve esclarecê-lo sobre isso para que ele possa compreender e ter paciência com a sua esposa nesse momento. É um momento que ele pode se dedicar carinhosa e afetivamente e mostrar todo amor que sente por ela”, completa Luís Carlos Weyne.

Para Viviane Quinto, orientadora sexual e fundadora da @papointtimo, página de conteúdo sobre sexualidade feminina, o diálogo entre o casal é indispensável para o resgate do desejo sexual.

“Poder expor para o (a) parceiro (a) seus medos e receios é de extrema importância. Grande parte das mulheres, além da questão hormonal, também se sente desconfortável e insegura com as mudanças no seu corpo, afetando sua autoestima e diretamente sua libido. É muito importante ela se sentir segura com o seu parceiro. 

Legenda: Luís Carlos Weyne: Quando a gravidez é saudável não há contraindicações.
Foto: Natália Braga

Sentir-se segura com o parceiro é tão importante quanto estar bem informada sobre o tema. Ainda existem mitos e tabus em relação ao sexo na gravidez, como riscos de causar dano ao feto e outras complicações. “Quando a gravidez é saudável, está indo bem, não existe nenhuma contraindicação. A gestante pode ter relações durante todo o período gravídico”, afirma Luís Carlos Weyne. Se o receio é machucar o bebê, o casal pode ficar tranquilo que o ato sexual não traz esse risco. O médico explica. “O bebê está localizado bem acima do local até onde o pênis chega. O pênis do homem, na relação sexual, chega próximo ao colo do útero, mas a cabeça do bebê está bem acima e protegido pela bolsa das águas. Então a relação sexual não tem como machucá-lo. Ela é muito bem-vinda na gravidez, porque aproxima o casal, ou seja, é uma fonte de prazer e alimenta o sentimento bom que o casal tem”, defende o obstetra.

A informação foi uma aliada poderosa para a assistente administrativo Rayssa Stella Nunes, mãe da Maria Stella, de 6 meses. Durante a gestação, Rayssa participou de eventos promovidos pelo coletivo de doulas Gaia, que a ajudou a esclarecer todas as dúvidas. Ela conta que sentiu a libido cair no primeiro trimestre, mas a partir do quinto mês de gestação o desejo sexual aflorou muito. “Não sei se havia relação entre a aceitação da gestação, a fase de incômodos terem cessado, mas eu sentia muito mais desejo pelo meu parceiro", afirma Rayssa Stella Nunes. “Tivemos relação até 2 dias antes do parto, inclusive, uma das relações foi em intervalo de contrações, quando estava no período de pródromos (fase inicial do trabalho de parto), o que me ajudou a  relaxar”, lembra. O sexo na gravidez ajuda a liberar diversos neurotransmissores, como endorfinas e dopamina, que possuem ações relaxantes e antidepressivas. No final da gravidez, ajuda, inclusive na liberação da ocitocina, que provoca sensação de relaxamento no trabalho de parto e induz as contrações uterinas (saiba mais aqui).

Contraindicações

Em alguns casos, o sexo na gravidez pode ser contraindicado, como explica o obstetra Luis Carlos Weyne. “Se a mulher estiver apresentando ameaça de abortamento ou sangramento, por exemplo, a relação sexual pode precipitar um aborto. Se a mulher estiver com a placenta baixa, o que chamamos de inserção baixa de placenta ou placenta
prévia, quando ela se implanta próximo ao colo do útero, ou até mesmo ocluindo esse colo do útero, a relação sexual pode precipitar um sangramento”. Nesses casos, informa o médico, a orientação é que o casal não tenha relações sexuais. “Doença grave, como hipertensão na gravidez, a pré-eclampsia, também é condição grave que pode contraindicar a relação sexual na gravidez”, acrescenta Luís Carlos Weyne.

Ao final da gestação, depois das 37 semanas, se não houver nenhuma contraindicação médica, o sexo é liberado. “Se ela entrar em trabalho de parto nesse período, não tem problema, pois o bebê já tem maturidade para nascer. Desde que ela se sinta bem, não sinta dor, traga prazer, alegria para o casal, não existe nenhuma contraindicação. Pelo contrário, é saudável", finaliza.

Pós-parto 

Em geral, recomenda-se que as relações sexuais sejam retomadas após o parto, quando a mulher estiver se sentindo confortável, como observa Rayanne Pinheiro, ginecologista e sexóloga. “Após 4 semanas, as chances de complicações já são bem reduzidas, assim o casal poderá com tranquilidade retomar as relações”. A médica explica que, após o nascimento do bebê, a amamentação é o fator de maior influência sob o corpo da mulher, inclusive na área sexual. “Durante todo o período de aleitamento, a hipófise feminina secreta altos níveis de um hormônio chamado prolactina. Ele é responsável pelo crescimento das glândulas mamárias e precipita a produção de leite. Quando o bebê suga o seio, a liberação desse hormônio chega a dez vezes o seu valor normal”, explica.

Se por um lado o hormônio garante a alimentação do bebê, por outro diminui acentuadamente o impulso ou desejo sexual da mulher.

“A libido feminina e a dosagem de prolactina são inversamente proporcionais. Ao que parece, a natureza julgou mais conveniente que as mães completassem o desmame de um filho antes de conceberem outro, nos pregando essa peça da prolactina inibir a sexualidade na lactação”, brinca Rayanne Pinheiro.

“Mas vale ressaltar que, apesar desse hormônio reduzir o desejo e também estar indiretamente associado ao ressecamento vaginal, a capacidade de orgasmo da mulher está preservada. É possível e saudável manter vida sexual durante esse período. Com hidratantes e lubrificantes íntimos, o ressecamento pode desaparecer e render momentos agradáveis", indica a profissional.

Após o primeiro mês de vida da filha, a assistente administrativo Rayssa Stella Nunes foi liberada para ter relações com o marido. “E foi muito tranquilo e prazeroso”, conta. Para ela, ainda existe muito tabu em torno da prática nesse período, o que impede muitas mulheres de desfrutarem a vida sexual durante a gestação. “A única dica que eu acho válida é primeiro encerrar o tabu com o sexo, encerrar a ' santificação' da mulher  gestante e aceitar que, como toda mulher, temos desejos. É preciso respeitar o seu tempo e conversar abertamente com o parceiro. E, mais do que nunca encontrar apoio e informação com amigas que passaram pela experiência ou em algum coletivo de doulas, como foi meu caso, com o Coletivo Gaia de apoio a gestantes e puérperas”, indica Rayssa Stella Nunes.