Imagine uma gestante de tempos atrás. Uma ideia conceitual era que toda grávida devia fazer o mínimo de esforço possível. Ainda temos resquícios daqueles tempos. O leitor desse artigo, com certeza, já ouviu ou presenciou essa recomendação.
Hoje sabemos que os exercícios físicos são recomendados para todas as gestantes saudáveis, necessitando de adaptações para condições especiais, como atletas, hipertensas, diabéticas e obesas.
O Colégio Americano de Obstetria e Ginecologia atesta que a prática regular de exercícios promove inúmeros benefícios físicos e psicológicos para a mulher gestante, sem efeitos negativos para o feto e/ou recém-nascido, quando realizados em intensidade leve a moderada. No entanto, poucas gestantes aderem às indicações e muitas ainda têm receios e dúvidas quanto à segurança da sua realização.
Qual modalidade é mais indicada? Objetivando a permanência e a aderência à modalidade, escolhe-se conforme o prazer que proporcione à gestante. Contudo, devem ser evitados exercícios que coloquem a gestante ou o feto em risco, como atividades de alto impacto, com risco de queda ou trauma abdominal, esportes de contato, exercícios com saltos (nos três primeiros meses) e que comprimam o abdome. A intensidade dessa atividade pode ser avaliada pela frequência cardíaca ou pela sensação subjetiva de esforço, razão pela qual a gestante deve preferencialmente ser acompanhada por um profissional de Educação Física.
É recomendada a combinanação de exercícios aeróbicos (como caminhada, corrida, bicicleta ergométrica), de resistência (por exemplo, a musculação) e o alongamento muscular. A frequência depende da atividade anterior à gravidez, sendo recomendáveis quatro a cinco sessões semanais de pelo menos 30 minutos para as futuras mamães que já tinham o hábito de exercitar-se e três vezes na semana com aumento gradual para as iniciantes.
Para as que gostam de treinamento resistido (exercícios que usam cargas e intervalos como a já citada musculação ou levantamento de peso), evitar a manobra da valsava (prender o ar durante o exercício).
O treinamento dos músculos do assoalho pélvico durante a gestação diminui o risco de incontinência urinária no pós-parto e traz inúmeros benefícios.
Deve-se ter cuidado com a temperatura (treinar em horários de clima ameno) e evitar a prática ao ar livre quando a umidade do ar estiver muito baixa, preferindo ambientes abertos e ventilados. A gestante deve ter cuidado extra com a hidratação durante a prática do exercício, bebendo água antes, durante e após esse momento.
As contraindicações ao exercício são divididas em absolutas (doença cardíaca, doença pulmonar restritiva, incompetência ístimo-cervical, sangramento durante a gestação, placenta prévia, ruptura prematura de membrana, pré-eclâmpisa) e relativa (anemia, bronquite, arritmia cardíaca, diabetes não controlado, sangramento durante a gestação, hipertensão arterial crônica, epilepsia ou doença da tireoide, obesidade extrema, desnutrição ou desordem alimentar).
São sinais de alerta para a interrupção dos exercícios: sangramento vaginal, redução dos movimentos fetais, dor no abdome ou no peito, dor ou sensação de ardência ao urinar, perda de líquido pela vagina, febre, inchaço repentino nas mãos, na face ou nos pés.
Não existe descrito na literatura uma idade gestacional para interromper a prática de exercícios, o que varia entre as grávidas. Assim, o exercício físico é uma prática que proporciona benefícios para a saúde da mulher durante a gestação, devendo ser conhecida e estimulada pelos profissionais da saúde.
Referência: ACOG - Committee Obstetric Practice. ACOG Committee opinion, 2017: exercise during pregnancy and the postpartum period. Obstet Gynecol.
Por Welton Godinho
Graduado em Educação Física, Mestre em Ciências Fisiológicas, Professor Universitário (Uece, Unifanor) e membro da Comissão de Saúde do Cref5-CE.