Crescimento saudável

A rotina de um bebê é mais do que mamar e dormir. Quando são incluídas atividades estimulantes, o desenvolvimento da criança tem outro nível de evolução de suas habilidades visuais, sonoras e táteis. Entenda como funciona a estimulação precoce de bebês.

Com apenas seis semanas de vida, a pequena Ester começou a receber estímulos para resgatar o seu olhar que parecia perdido. Ela olhava fixamente para cima, como se estivesse muito distraída. “Hipóteses que variavam de crise de ausência até a imaturidade do bebê foram levantadas", afirma a dentista Thâmara Manoela Marinho Bezerra, mãe de Ester, de quatro meses. O resgate do olhar veio com a ajuda de uma profissional especialista em cuidados com o bebê, que utilizou brinquedos com sons, figuras e gestos de boca. “Eu fazia do jeito errado, pois sacudia o bracinho e a região do tórax. Os primeiros resultados já apareceram no momento da consultoria. Depois, com a continuação diária dos estímulos, minha bebê é outra. O olhar fixo desapareceu e ela começou a interagir espontaneamente”, relata Thâmara.

O que aconteceu com a pequena Ester é resultado do trabalho de estimulação precoce, que se traduz por um conjunto de técnicas aplicadas à criança nos primeiros meses de vida para garantir seu desenvolvimento saudável. "Estimular não significa forçar a criança, significa acompanhá-la e desenvolver sua máxima potencialidade”, explica Poliana Plutarcho, enfermeira neonatal e consultora de estimulação precoce de bebês sem deficiência.

Os ganhos para o bebê refletem na sua evolução física, intelectual, sensorial e psicológica. “O objetivo disso tudo é fazer com que a criança consiga ter noção do mundo que a cerca para que todo o processo de desenvolvimento dela seja apropriado”, completa a profissional. 

A servidora pública Elizabeth Regina Espíndola Nogueira nem sabia que existia esse trabalho especializado quando observou que o filho Masseo José, com 4 meses na época, não se desenvolvia como esperado. “A pediatra do meu filho dizia que ele tinha um certo atraso para a idade mensal dele. Por exemplo, aos 2 meses, dizia que ele já devia estar com o pescoço duro, aos 3 meses dizia que era para ele já estar se virando sozinho”, conta. “Ela passava alguns exercícios para eu fazer em casa, mas sempre na consulta seguinte ele não mostrava que se desenvolvia como o esperado”, relata. 

Para ajudar no desenvolvimento do filho, Elizabeth Regina iniciou o trabalho de estimulação precoce com a enfermeira Poliana Plutarcho, a partir de exercícios para pescoço, pernas, coluna e para sentar-se sozinho. “Os primeiros resultados, em termos de movimentos para sentar sozinho sem apoio, habilidade para se virar e desvirar, só foram notados de 2 a 3 semanas depois, em virtude dos exercícios diários que fazíamos por 10 minutos. Já na comunicação, de imediato notei diferença, principalmente pelas brincadeiras e pela interação com a família, pois o bebê gritava de alegria, sorria bastante. Foi um salto de desenvolvimento, importante para o psicossocial e a linguagem”, observa Elizabeth Regina.

Como salienta a enfermeira neonatal, o trabalho de estimulação precoce não só melhora a percepção de mundo do bebê, como contribui para o ganho de peso, podendo começar logo após o nascimento.

“Inclusive, quando os bebês são prematuros, é importantíssimo que se faça estimulação precoce para que ele consiga se desenvolver logo e ganhe peso mais rapidamente”, pontua Poliana Plutarcho. Nessa fase, explica, um recurso muito utilizado são os cangurus, pois proporcionam um contato pele a pele com a mãe, próximo da voz e das batidas do coração dela. “Tudo isso faz com que a parte imunológica dele seja mais desenvolvida e a parte sensório-motora também”, reforça.

Não é só mamar e dormir

Legenda: Poliana Plutarcho: Cada toque, conversa, beijinho, abraço e massagem funcionam como uma estimulação.
Foto: Paulo Figueiredo

As mamães de primeira viagem podem pensar que a rotina dos bebês se resume a mamar e dormir. Muitas vezes, vencidas pelo cansaço e a privação do sono, acabam não tendo tanta energia para investir em outras atividades. Mas, como pontua Poliana Plutarcho, não é preciso muito para causar estímulos que ajudarão o bebê a evoluir. “Cada toque, conversa, beijinho, abraço, massagem, ou seja, cada momento desses funciona como uma estimulação. Alguns bebês, quando não são estimulados nesse sentido, são totalmente diferentes, têm outra percepção. Se eles têm estimulação, a quantidade de sinapses e estímulos nervosos aumenta, o que vai ter um reflexo lá na frente”, explica a consultora.

Além de ser bom para o bebê, a prática alimenta a relação com os pais. “Acho os exercícios de estimulação muito prazerosos, pois é um momento de muita interação entre eu e minha filha que, apesar de tão pequenina, interage bastante”, observa Thâmara Manoela Marinho Bezerra. Como orienta Poliana Plutarcho, a estimulação precoce deve ser incluída na rotina de cuidados com o bebê em um ciclo de mamar, brincar e dormir. “Esse ciclo é interessante porque o bebê faz vários ciclos durante o dia”, destaca a enfermeira neonatal.

De acordo com a profissional, após uma boa mamada – aquela em que o bebê termina feliz, de acordo com Poliana Plutarcho – a mãe passa um tempo fazendo uma atividade com a criança, que pode ser um passeio de carrinho, uma brincadeira no tapete, mudando a postura – ora com a barriga para cima, ora para baixo -, com brinquedos, música ou dança. “Em todos os períodos da estimulação, os pais podem fazer atividades diferentes. Começa com uma simples estimulação de 2 a 3 minutos, depois, a cada mês, vai aumentando esse tempo.  Daqui a pouco, o bebê estará brincando cerca de 15 minutos, no máximo, respeitando sempre os horários do sono”, detalha a consultora.

A estimulação precoce é um trabalho contínuo de apresentar um novo mundo de possibilidades visuais, sonoras e táteis para o bebê. A rotina da servidora Elizabeth Regina M. Espíndola Nogueira não é mais a mesma desde que passou a incluir atividades de estimulação precoce na rotina do seu pequeno Masseo José. “As brincadeiras no tapete, os estímulos com brinquedos, as conversas, o segurar no quadril para apoio nos primeiros passos do engatinhar, o levantar de braços e pernas, ajudá-lo a segurar o alimento e brinquedos, tudo isso faz parte da minha rotina e vai se modificando ao longo do crescimento e das fases. Assim que noto novas habilidades, vou implementando novos estímulos de maneira que meu filho esteja crescendo e aprendendo”, conta.