A menos de três meses para as eleições, o grupo governista do Ceará, liderado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT), enfrenta uma crise para definir o candidato e quais alianças serão mantidas para o pleito deste ano. Diante dessa indefinição, o Diário do Nordeste relembra cinco episódios que explicam a crise interna do PDT.
O partido lançou quatro pré-candidatos, mas a disputa segue polarizada entre dois nomes: a governadora Izolda Cela e o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio. Além deles, estão na disputa o deputado federal Mauro Filho e o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão.
O ex-prefeito tem apoio de lideranças nacionais do PDT, como o ex-ministro Ciro Gomes e o presidente nacional da sigla, Carlos Lupi. Reforça o grupo de aliados do político a bancada de vereadores do PDT de Fortaleza. Já o nome de Izolda é defendido por lideranças do PT, PP e MDB. Essas siglas ameaçam lançar candidatura própria ou reforçar a oposição caso a mandatária seja preterida na disputa.
1) Apoio de José Sarto
O estopim que deflagrou a crise no partido foi aceso pelo prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT). Em março deste ano, o político declarou preferência pelo ex-prefeito da Capital.
“O nome que hoje representa, encerra e traduz, a meu juízo, o melhor nome do PDT, que tem juventude, experiência, conhece o Ceará, é o Roberto Cláudio"
O movimento foi seguido por vereadores pedetistas, como Adail Jr, Enfermeira Ana Paula, Júlio Brizzi, Lúcio Bruno e Paulo Martins. O presidente da Câmara de Fortaleza, o vereador Antônio Henrique (PDT), também fez declaração pública de apoio ao ex-prefeito.
"Dentro do PDT temos vários nomes, muitos bons, competitivos, mas não tenho dúvidas de que o do ex-prefeito Roberto Cláudio é o melhor nome para o momento que estamos vivendo ao final do Governo Camilo Santana", disse o parlamentar.
2) Izolda Cela assume o Governo do Ceará
O favoritismo inicial de Roberto Cláudio começa a ser ameaçado ainda no fim do Governo Camilo, quando a vice-governadora Izolda Cela começa a fazer movimentações com sinais eleitorais. Ela, inclusive, passou a acompanhar Camilo na intensa agenda de inaugurações do petista nos últimos dias como governador.
Em 2 de abril, Izolda assume como a primeira governadora do Ceará. No cargo, o nome da mandatária ganha um impulso na corrida e consolida a polarização com Roberto Cláudio. Ela passa a ter a liderança exaltada por bancadas parlamentares do MDB, PT e PP, por exemplo.
Paralelamente, a pedetista começa a promover encontros com prefeitos e deputados cearenses. Além de ouvir os políticos, as reuniões demonstram a estratégia de aproximação com lideranças políticas do Interior.
3) Apoio de José Guimarães
Se Sarto foi a primeira liderança política a defender publicamente o nome de Roberto Cláudio, o deputado federal José Guimarães também foi pioneiro, mas em defesa de Izolda Cela.
"Não estamos impondo nada, mas nossa preferência é por Izolda Cela"
As declarações foram reforçadas por deputados estaduais do partido e também iniciaram uma onda de apoio aos planos da mandatária de disputar a reeleição. O ex-senador Eunício Oliveira (MDB) disse que, entre os pré-candidatos, Izolda seria a única com quem ele aceitaria discutir a manutenção da aliança entre MDB e PDT.
Izolda ainda recebeu apoio de Zezinho Albuquerque, uma das principais lideranças do PP, e até de Evandro Leitão, que disputa diretamente com ela a cabeça de chapa. Durante evento em Coreaú, ele desejou sabedoria à chefe do Executivo "ao longo do seu mandato, nos nove meses e, se Deus quiser, mais quatro anos à frente do Governo do Estado do Ceará".
4) Reação de Ciro Gomes
A tensão no grupo governista sofre uma nova escalada em maio, quando o ex-ministro Ciro Gomes, em entrevista ao Jornal Jangadeiro, ataca integrantes do PT Ceará, ameaçando romper a aliança entre as siglas. Ciro também defende o nome de Roberto Cláudio. A fala do pedetista é rebatida pela governadora, que sai em defesa da aliança governista.
“Gostaria de expressar todo o meu respeito à aliança de partidos que ajuda a governar o Ceará e tem contribuído para os muitos avanços do nosso estado nesses últimos anos. PDT, PT, MDB, PSD e tantos outros que integram nosso Governo têm sido fundamentais em todo esse processo”
Mas as falas de Ciro não pararam por aí. Em encontro do PDT em junho na Capital, o político respondeu sobre as investidas de ala do PT cearense em romper a aliança com o PDT: "que seja muito feliz".
5) Retomada das reuniões entre pré-candidatos
Para tentar amenizar a tensão entre as alas pedetistas, os pré-candidatos passam a se reunir com mais frequência. Ainda em maio, a governadora recebeu os outros três pré-candidatos da sigla no Palácio da Abolição.
Em junho, os quatro nomes do PDT tiveram reunião fechada com Ciro Gomes. O encontro serviu para selar “unidade”. O pedetista, no entanto, anunciou que a decisão sobre quem deve liderar a chapa governista passará por uma pesquisa de opinião, o que despertou a insatisfação de aliados de Izolda Cela.
Outro encontro que expôs a divisão do partido ocorreu neste mês, quanto Camilo recebeu os pré-candidatos e a reunião acabou virando uma lavagem de roupa suja, conforme revelou o colunista Inácio Aguiar. Na reunião, o ex-governador e Roberto Cláudio tiveram uma conversa dura sobre o processo de escolha do candidato.
O encontro mais recente foi na última quarta-feira (6), quando Ciro reuniu novamente Izolda, Roberto, Mauro e Evandro para entregar a pesquisa encomendada pelo PDT. O ex-ministro passou rapidamente pela reunião, entregou os dados da pesquisa contratada pelo partido para avaliar os nomes e deixou os correligionários conversando sobre os dados.