Editorial: Tecnologia no campo

Há um novo normal surgindo como consequência da pandemia da Covid-19. Inserida neste tempo de profundas mudanças na vida das pessoas, das empresas e dos governos: a inovação – tecnológica ou não – é o mantra repetido à larga nas corporações públicas e privadas. O isolamento social imposto pela crise pandêmica, mas desrespeitado na maioria dos países, inclusive nos europeus cultural e economicamente desenvolvidos, emulou os luminares de todos os ramos da ciência a buscarem a descoberta de alternativas para questões, simples ou complicadas, ainda não resolvidas, embora algumas estejam já bem encaminhadas, como a da garantia da produção de alimentos para a população mundial, que, em 2050, chegará aos 9 bilhões de almas e bocas.

Como assegurar alimento para tanta gente com tão pouca disponibilidade de água doce no planeta, boa parte da qual, aliás, localizada na Amazônia brasileira, onde se encontra o mais caudaloso rio da terra – o Amazonas? A ciência já respondeu que isso é possível, e o vem demonstrando. Hoje, é possível produzir mais alimentos usando menos água doce. 

Os novos processos de irrigação usados pela agricultura empresarial, principalmente no Brasil, já revelaram a sua viabilidade. Mas, agora, a grande novidade tecnológica – desenvolvida pela ciência holandesa e já replicada em Israel, na Espanha e no México – é o que já recebeu o nome de “culturas protegidas”.

São aquelas praticadas em áreas abrigadas, cobertas por estufas, ou seja, protegidas contra a invasão de insetos ou fungos. É esta tecnologia que o Governo do Ceará, por meio da Secretaria Executiva do Agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, utilizará no futuro Centro de Tecnologia de Culturas Protegidas, que se implantará nas mesmas instalações e no mesmo terreno onde se localiza a antiga usina de cana-de-açúcar de Barbalha, na região do Cariri, no Sul do Estado. 

Merece louvores essa iniciativa, porque ela nasce do poder público em perfeita sintonia com as aspirações da iniciativa privada. O melhor do projeto, pelo que até agora dele falou o secretário Executivo do Agronegócio, agrônomo Sílvio Carlos Ribeiro, é seu objetivo de transferir a melhor tecnologia a todos os produtores rurais do Ceará, independentemente do seu porte. A mesma tecnologia já é utilizada pela empresa cearense Itaueira Agropecuária, que, em São Benedito, na Serra da Ibiapaba, produz pimentões coloridos em mais de 20 hectares totalmente protegidos por estufas. Essa proteção reduz ao mínimo o consumo de água (a irrigação é por gotejamento, controlada por sensores), a quase zero a presença de insetos e a zero o uso de agroquímicos. 

O Centro de Tecnologia de Culturas Protegidas do Cariri é a melhor e mais clara sinalização de que o Governo e o setor privado do Ceará seguem caminhando juntos o mesmo caminho que leva a uma finalidade comum: tornar modernas e tecnologicamente inovadoras sua indústria e sua agropecuária. Há algumas pedras a dificultar a caminhada – como a proibição, única no Brasil, de pulverização aérea – mas mesmo neste particular o próprio Governo já demonstrou disposição de superar o impasse, que está hoje sob apreciação do Supremo Tribunal Federal.