Das muitas incertezas trazidas pela pandemia da Covid-19, uma dizia respeito à realização das eleições municipais, previstas, como determina a Constituição Federal, para o mês de outubro. No segundo trimestre do ano, a indagação rondava os espaços de poder e ocupava a classe política, sem que muitos admitissem que, de fato, era improvável que se pudesse realizar uma votação em massa naquele período. Por fim, em julho, o Congresso Nacional confirmou o adiamento do pleito. Em sessão solene conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, foi promulgada a Emenda Constitucional nº 107/2020, transferindo os dias de votação para novembro, em razão da pandemia.
Ontem, teve fim um ciclo de um eleição atípica, sob apreensão por conta do vírus, mas repleta de esperança pelo que pode ser construído nos próximos quatro anos. Como no primeiro turno, realizado no último dia 15, as eleições municipais ocorreram sem contratempos mais graves. Fortaleza e Caucaia definiram, ontem, quem serão seus prefeitos, a partir do dia 1º de janeiro, para um ciclo administrativo de quatro anos. Na Capital, o deputado estadual Sarto Nogueira saiu vitorioso nas urnas. Político veterano, ele contou com o apoio do atual prefeito, Roberto Cláudio, e do governador Camilo Santana. Em Caucaia, foi eleito Vitor Valim.
Vizinhos, os dois municípios mais populosos do Estado partilham desafios em comum. O enfrentamento da pandemia e de suas consequências econômicas e sociais continuará a ser imperativo. Mesmo nos cenários mais otimistas, a chegada de uma vacina e a imunização em massa não farão com que o problema suma da noite para o dia. É uma situação que agrava o quadro da saúde pública, tema que é, tradicionalmente, a prioridade máxima dos eleitores e particularmente complexo quando se trata de grandes contingentes urbanos.
A pandemia também contribuiu para o aumento da desigualdade, dado seu imediato impacto no setor produtivo. Apesar de o País já registrar certa recuperação da economia, a estrada a se percorrer ainda é extensa, e 2021 será um ano particularmente importante. De fato, a crise sanitária ainda não foi superada, contudo, o ano corrente legará lições indispensáveis para lidar com o que convencionou chamar de “novo normal”.
A educação – outra pauta cara à população – demanda atenção para além da questões pedagógicas e estruturais habituais. O retorno às aulas é, por um lado, esperado; por outro, inspira apreensão dado os riscos de contágio. As alternativas do ensino tecnologicamente mediado tampouco são de fácil execução, pois demandam um aporte de equipamentos do setor público; condições das famílias de darem suporte aos filhos, quando muitos pais e mães já retornaram às suas atividades presenciais; e acesso, por parte dos alunos, a dispositivos e a conexões à internet.
Para além dos embates do período eleitoral, é fundamental que as lideranças políticas e os representantes eleitos tenham a consciência da necessidade do diálogo. Trata-se de instrumento indispensável para o exercício da democracia. Os representantes eleitos, afinal, assumem voluntaria e conscientemente a missão de governarem para todos, objetivando o bem dos munícipes.