A lição do primeiro turno

Da profusão de fotografias e vídeos multiplicados no último domingo (15), em todos os municípios do País, numa expressão viva da paixão política que mobiliza as eleições no Brasil, emergiram alguns registros reprováveis. Há situações que não devem ser deixadas ao passado: exigem respostas das autoridades e atenção da sociedade. São exemplares como costumam ser as infrações diversas – modelos negativos, aquilo que não deve ser feito, nem se deve permitir que repita.

Ainda no dia das eleições, despontaram imagens de multidões em festa; cenas que pareciam ter sido documentadas antes dos tempos excepcionais de pandemia. Infelizmente, confirmaram-se as previsões pessimistas daqueles que acreditavam que muitos – não apenas eleitores, mas também candidatos – deixariam de lado a cautela e desrespeitariam o decreto estadual e suas regras sanitárias. 

O momento exige rigor. A autodisciplina é a ordem do dia, por conta de uma ameaça à saúde pública ainda não superada. Pode-se adivinhar a vacilação provocada pelos espíritos acalorados nos embates acirrados. Não é possível que se flexibilize o cuidado. Regras sanitárias não podem ser suspensas por conta das campanhas eleitorais – e é preciso lembrar, em Fortaleza e Caucaia um pleito está programado para o próximo dia 29. Não podem porque, objetivamente, não existem condições de que se aceite qualquer tipo de condescendência. O que está em risco é a saúde e a própria vida da coletividade. 

A Covid-19, como se sabe, já é um desafio para os próximos gestores municipais. É portanto responsabilidade dos futuros gestores ou daqueles que pleiteiam tal posto o cuidado com os apoiadores e com as equipes de campanha. Não se trata aqui de questões legais ou do que as cortes eleitorais podem cobrar de cada um, mas de um imperativo ético ao qual está submetido todo aquele que se apresenta ao povo como merecedor de sua confiança e de seu voto.

Comparado ao primeiro turno, o segundo – que acontece no fim deste mês – deverá ser consideravelmente menor, dada a participação de apenas dois dos 184 municípios cearenses. Claro, não são cidades pequenas que estarão vivendo, mais uma vez, a disputa para definir seus rumos políticos e administrativos para os próximos quatro anos. Fortaleza tem 1.821.382 eleitores e Caucaia, 222.128 pessoas habilitadas a votar. Ainda assim, a ebulição eleitoral estará concentrada. Haverá melhores condições de se garantir a segurança nas ruas e a ordem nos pleitos.

O primeiro turno, tanto o período da campanha, como o dia da votação, deve servir de referência para que se possa ter um dia 29 mais ordeiro. Momentos políticos como o de uma eleição são marcados pela festa, pelo desejo de comemorar. É imperativo que, por força maior, tudo isso se dê de uma forma nova, adaptada às necessidades de uma vida social sob ameaça de uma pandemia. É mister que se respeite as regras sanitárias, tanto quanto as leis eleitorais.

Para que se logre sucesso nessa empreitada, é fundamental que se conte com o compromisso das campanhas, de apoiadores, eleitores e candidatos, para além de suas diferenças políticas e ideológicas. O bem comum exige que se deixe de lado todas as diferenças.