Repercussão do novembro da consciência negra

As resistências negras são plurais na defesa social, política e cultural da memória e patrimônio afro-brasileiros e demarcam fronteiras com tudo que os impedem de acessar direitos e exercer a cidadania

Legenda: A discriminação racial no Brasil é visual, a segregação é tácita, não institucionalizada. Conta muito os traços fisionômicos objetivamente observáveis, principalmente a cor da pele associada a outros traços
Foto: Foto: Fabiane de Paula

O Grupo Palmares de Porto Alegre foi o responsável pela criação do 20 de novembro. O dia nacional da consciência negra toma como referência o herói Zumbi de Palmares. Em particular, destaco o ativismo do poeta e intelectual afro-gaúcho Oliveira Silveira como grande mentor, na década de 1970, dessa data histórica.

Durante o mês de novembro, em todo Brasil, é possível ver muitas manifestações dos negro/as, demonstrando resistências às condições adversas desde que aqui chegaram sequestrados em África para serem escravizados.

No presente, têm denunciado as violências raciais persistentes que marcam suas trajetórias de vida, e criado estratégias e táticas para preservação da vida numa sociedade de economia debilitada, com o aumento da pobreza e da fome, sistemas de proteção social fragilizados, programa de transferência de renda incertos, proliferação de discurso e práticas de ódio guiados pelo racismo estrutural.

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Mesmo diante de tantas desigualdades se faz necessário apresentar à sociedade os avanços conquistados, celebrar os resultados e os impactos dos esforços empreendidos pelo ativismo dos movimentos negros, que historicamente reacendem o espirito associativo e de luta em prol de sua humanidade.

Portanto, as resistências negras são plurais na defesa social, política e cultural da memória e patrimônio afro-brasileiros e demarcam fronteiras com tudo que os impedem de acessar direitos e exercer a cidadania.

São considerados avanços das organizações negras no século XXI a participação de lideranças negras na III Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em Durban, na África do Sul, em 2001, um dos momentos mais significativos para o desenvolvimento:

  • do regime internacional de combate ao racismo, promoção dos direitos dos indígenas e afrodescendentes e formulação de políticas de igualdade racial;
  • estimulo a educação antirracista por meio de leis que tornam obrigatório o ensino da história e da cultura dos africanos, afro brasileiros e indígenas;
  • criação em 2010 do Estatuto da Igualdade Racial;
  • implantação das ações afirmativas (cotas raciais) para acesso à educação superior e no serviço público;
  • ativismo das entidades negras nas redes sociais;
  • Marcha das Mulheres Negras em Brasília em 2015;
  • participação das organizações dos movimentos negros na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP 26) em Glasgow, levando suas reivindicações por reconhecimento étnicos e dos seus saberes frente aos impactos da crise ambiental, afirmando o compromisso com a justiça climática.

Essas e outras ações tem contribuído na formação da identidade política e coletiva negra.

As comemorações da consciência negra devem repercutir em toda a sociedade, pois carece ser ouvidas as vozes das mulheres, juventudes, quilombolas, população periférica negra por justiça, valorização e prestigio étnico racial na constituição do desenvolvimento sustentável.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.