Não foi dessa vez que o racismo foi combatido

Na maioria dos casos, a vítima se torna a vilã, passa a ser culpada se reagir, sendo inclusive punida

Legenda: Vini Jr., jogador brasileiro hostilizado na La Liga da Espanha
Foto: Divulgação/Real Madrid

O comércio transatlântico de africanos, a escravidão e o colonialismo moldaram estruturas e sistemas racialmente discriminatórios. É por isso que, até hoje, o racismo se configura como fenômeno planetário, cuja base está no processo de despersonalização que causa danos de forma abrangente, em particular aos grupos étnicos cuja origem vêm de África, tidos como meros corpos-objetos, desprovidos de qualquer humanidade.

E, para que um sistema racializado exista, o papel das instituições é fundamental. As instituições são responsáveis por manter esse sistema e as políticas, e assim normalizar o racismo.

Vale questionar sobre os efeitos desse sistema que age contra o grupo racial que foi desraizado, inferiorizado e tem de conviver cotidianamente com acusações de incapaz e incompetente em diferentes esferas da vida social.

Quanto ao racismo praticado no contexto de atividade esportiva ou artística, têm-se os incontáveis casos de racismo no futebol. E é revelador a dificuldade das instituições que representam as Ligas, campeonatos, times, torcidas em combater de forma séria as práticas discriminatórias recorrentes nos jogos, nas redes sociais contra as pessoas negras, que seguem sendo odiadas e incomodando aqueles que garantem a hegemonia da branquitude.

Por repetidas vezes, o jogador Vinicius Junior, do Real Madrid, foi alvo de agressões, insultos racistas, chamado de "macaco" em campo, como forma de ferir a dignidade, humilhação e desumanização do grande jogador.

Importa considerar por que nenhuma das vezes se deu de modo incisivo e objetivo a responsabilização dos que praticaram o crime, ou não se contou com apoio e solidariedade ao agredido. Isso retrata o quanto o racismo não comove muitas pessoas, autoridades e instituições.

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O racismo precisa ser criminalizado. Faz-se necessário posicionamento firme contra os ataques aos negros/as, que ocorrem de maneira sistemática e naturalizada, no trabalho, escolas, nas instituições públicas e privadas por meio de piadas, representações vexatórias de suas imagens, praticados por colegas, familiares ou estranhos. E na maioria dos casos, a vítima se torna a vilã, passa a ser culpada se reagir, sendo inclusive punida.

O Brasil segue a tendência de considerar racista aquele que pauta o debate da questão racial, pois minimiza o preconceito e a discriminação racial.

Contudo, foi importante o posicionamento do Governo Nacional, do Ministério da Igualdade Racial, que por meio de articulação política nacional e internacional demarcou que a omissão e a impunidade são práticas antidemocráticas, e que se fazem necessárias medidas de combate à subnotificação dos casos e enfretamento ao racismo.

Diante da desumanização e da exclusão, está o fracasso em reconhecer as responsabilidades. Torna-se urgente desmantelar essas estruturas, lembrar e reconhecer as contribuições dos afrodescendentes, garantindo que o racismo não seja glorificado.

Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.

*Professora da UECE e Secretária da Igualdade Racial do Ceará



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