Quando a terra voltar a ser redonda, girando em torno do sol, precisamente nos minutos iniciais deste domingo, 1º de janeiro de 2023, uma infinidade de coisas mudará naturalmente. Até ressaca da virada do ano, óbvio, será mais leve, com a retomada dos movimentos de rotação e translação do planeta. A brava gente brasileira merece esse mínimo de normalidade, depois de quatro anos de terraplanismos & demolições.
Quando a terra voltar a ser redonda, por exemplo, você pode levar novamente seus filhos para um posto de vacinação sem que o papa-figo apareça no caminho com teorias estrambóticas e paranoicas. Uma vacina será somente uma vacina que protege contra sarampo, catapora ou Covid. O presidente da República não dará mais pitacos de boteco sobre efeitos colaterais -- xô, reptilianos e jacarés.
Quando a terra voltar a ser redonda, o professor Paulo Freire retomará o seu posto de patrono e mestre onipresente da sala de aula. Chega das ladainhas do astrólogo Olavo de Carvalho e dos falsos pastores envolvidos nos escândalos dourados do Ministério da Educação.
Quando a terra voltar a ser redonda, os fiscais do Ibama serão rigorosos e vigilantes da natureza, com o apoio político por todos os lados. Por sorte, ainda teremos Marina Silva como ministra do Meio Ambiente.
Quando a terra voltar a ser redonda, que os 33 milhões de brasileiros famintos reconquistem o direito sagrado a café da manhã, almoço e janta.
Quando a terra voltar a ser redonda, os militares talvez deixem de fazer política e se recolham às atividades dos quarteis ou da caserna. Não custa nada a obediência e o zelo aos regulamentos das Forças Armadas.
Quando a terra voltar a ser redonda, tomara que o uso e abuso de armas pesadas diminua urgentemente.
Quando a terra voltar a ser redonda, ufa, o Brasil amanhecerá mais respirável, pronto para ser reconstruído, remendado, dentro do novo normal republicano e democrático, óbvio e ululante. Feliz ano novo!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
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