Nas manifestações golpistas nos arredores dos quartéis das Forças Armadas, não há a menor dúvida: o pernambucano Paulo Freire será o ministro da Educação escalado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Este seria mais um sinal, no delírio coletivo dos bolsonaristas, da instalação do comunismo no Brasil.
O educador morreu em 1997, mesmo assim, não há quem tire a paranoia delirante da cabeça da turma inconformada com a derrota eleitoral. Aproveito o meme pronto para contar outro episódio curioso e real sobre o autor do clássico “Pedagogia do Oprimido”.
Com o golpe de 1964, Freire, dono de um projeto revolucionário de alfabetização, foi preso e conduzido a um quartel do Exército em Olinda. Ao chegar ao local, um tenente o reconhece e, empolgado, pede que ele aplique o seu método para ensinar a tropa de soldados a ler e a escrever.
Bem humorado, o professor respondeu: “Mas meu querido tenente, estou preso exatamente por causa disso! Se o senhor falar nessa história de que vai convidar o Paulo Freire para alfabetizar os recrutas, o senhor vai para a cadeia também.”
Paulo Freire ficou preso por 70 dias. Ele acabou no exílio político. Inicialmente na Bolívia, depois no Chile, onde permaneceu até 1969, ano em que foi convidado a lecionar em Harvard. O professor ainda passou pela Inglaterra e pela Suíça, e só voltaria ao Brasil em 1980. Morreu em 1997 devido a um ataque cardíaco.
Freire é considerado um dos educadores mais importantes do país, e um dos brasileiros mais influentes do mundo. Sua figura, no entanto, continua um tabu para a extrema-direita. Os golpistas que insistem acampados na frente dos quarteis que o digam.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
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