Ninguém apaga Paulo Freire da lousa da história

Foto: Agência Brasil

O primeiro alvo da cruzada bolsonarista foi o educador. Lembra daquela febre de perseguições a professores e professoras? A ordem de comando era filmar tudo na sala-de-aula e dedurá-los, em nome de uma inquisição conhecida como “escola sem partido”. Nessa onda, veio a tentativa de apagar da lousa da história o nome de Paulo Freire, patrono da educação brasileira.

O estrago no MEC foi barra pesada. Terminou com um dos maiores escândalos desse governo — pastores da intimidade do presidente foram acusados de cobrar até barras de ouro em troca de verbas de Brasília. Toda aquela moral dos perseguidores nas escolas virou pó. O ministro Milton Ribeiro também caiu por terra.

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O legado do pernambucano e nordestino Paulo Freire, no entanto, segue forte. Foi a esta legenda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu, durante a sabatina do Jornal Nacional, para reforçar a sua capacidade de conciliação e mostrar a necessidade alianças políticas: “De vez em quando a gente precisa estar junto com os divergentes para combater os antagônicos”.

O pensamento é do livro "Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido". Tema da campanha eleitoral e presente nas escolas — não só brasileiras, mas do mundo inteiro —, a memória de Paulo Freire não foi apagada. O risco do giz foi reavivado na sala-de-aula.

Agora um naco de história. A primeira tentativa de eliminar o educador se deu no Golpe de 1964. Em pesquisa para um livro que publicarei em breve, achei um episódio bizarro desse período, mas que revela o prestígio do educador.

Ao chegar ao quartel do Exército em Olinda, onde ficaria preso pela Ditadura, Paulo Freire é reconhecido, de forma entusiasmada, por um tenente. Alheio aos acontecimentos, o militar pede, encarecidamente, que o professor aplique o seu método para ensinar a tropa de soldados a ler e a escrever.

Bem humorado, apesar dos pesares, ele respondeu: “Mas meu querido tenente, estou preso exatamente por causa disso! Se o senhor falar nessa história de que vai convidar o Paulo Freire para alfabetizar os recrutas, o senhor vai para a cadeia também.”

À prova de apagamentos históricos, o professor dos professores sobreviveu aos porões militares e às trevas do bolsonarismo.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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