Tem cearense até no grande prêmio literário de Nova York

Foto: Fernanda Oliveira

Tem cearense até na lua. É o que diz a hiperbólica e intergaláctica filosofia dessa gente que todo santo dia dá a volta ao mundo mais ligeiro que personagem de Júlio Verne. Sem se falar no picaresco nó em pingo d´água, mesmo nas mais severas estiagens do El Niño. Tem cearense de Limoeiro do Norte, lá no vale do Jaguaribe, na condição de semifinalista do National Book Awards (EUA), um dos prêmios literários mais importantes do planeta.

A façanha é de Stênio Gardel, autor do romance “A palavra que resta” (Companhia das Letras), que concorre na categoria tradução. Sucesso de venda e leitura desde 2021, o livro conta a história de Raimundo, homem simples com origem e lida na roça. Aos 71 anos, ele decide aprender a ler e a escrever. Existe uma carta de Cícero, recebida há 50 anos, a ser decifrada. O amor suplanta as trevas.

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Em inglês, a obra de Stênio ganhou o título de “The Words That Remain” (editora New Vessel Press). Aqui entra na peleja uma bravíssima escritora potiguar chamada Bruna Dantas Lobato, estabelecida em St. Louis (EUA), responsável por traduzir o autor da região jaguaribana.

De Natal para o planeta, Bruna publicou contos na “The New Yorker” e outras importantes revistas estadunidenses. Além de “A palavra que resta”, fez traduções de outros autores brasileiros do naipe de Caio Fernando Abreu, Jeferson Tenório, Giovana Madalosso e Amara Moira.

Tem cearense até no National Book Awards. Um rapaz do interior do interior, do mato, feito do barro da louça de Córrego de Areia, comunidade do município de Limoeiro — “Terra saliva línguas braços pernas bocas fome vida”, como assenta no capítulo “Cícero” do romance em voga.

Ainda ouviremos muito falar desse nome. Vem por aí a versão italiana e um filme do seu livro. A saga está apenas começando para o autor que divide o ofício com o ponto de funcionário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) em

Fortaleza. Stênio Gardel, da terra das bicicletas (assim é conhecida a cidade de origem), dá 80 voltas ao mundo e conquista a galáxia de Gutenberg.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.