Stanislaw faz cem anos com os golpistas na ativa

O golpe armado pelo ex-presidente Bolsonaro fracassou, mas deixou um rastro de quebradeira e até um documento impresso como prova. Um espetáculo deprimente, condenável por qualquer defensor ou defensora da Democracia. De tão patético, imaginei esse farto material nas mãos de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do cronista carioca Sergio Porto (1923-1968), o ilustre aniversariante da semana — na quarta-feira, 11 de janeiro, deu-se a largada para as comemorações do seu centenário.

O Brasil precisa ler e lembrar Ponte Preta nessa hora. Ele foi o criador, meu jovem, do Festival de Besteira que Assola o País, o Febeapá. Nas páginas do jornal “Última Hora”, reunia todas as histórias bizarras ocorridas no país depois do golpe militar de 1964. Este sim um golpe, para a gente não fugir do assunto, que “deu certo”, segundo a visão dos generais de plantão ou de pijama.

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Atualíssimo, o festival foi reeditado recentemente em livro da Companhia das Letras. Vale a leitura para observar, por exemplo, como o surto da seita bolsonarista repete os costumes dos golpistas da velha guarda. A diferença é apenas a velocidade para espalhar as fake news e produzir o transe que vimos na frente dos quartéis.

Ponte Preta nos lembra, entre outras doidices e doideiras coletivas, como os militares tentaram prender um velho dramaturgo da Grécia Antiga: “Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica Electra, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 a .C..”

Digamos que a turma da linha dura chegou um pouquinho atrasada para prender o grego e proibir a sua peça. Até parece essa gente que andou espalhando agora sobre a posse de Paulo Freire como ministro de Lula, mesmo que o educador pernambucano tenha morrido em 1997. O delírio é semelhante.

Viva Stanislaw Ponte Preta no seu centenário. Vamos aproveitar para ler ou reler também as crônicas de Sérgio Porto, o seu dublê de fato e de direito. É humor, amor e lirismo para mais de metro a cada texto. Tudo que a gente mais precisa nesse Brasil safra 2023.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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