Naquela maternidade, visitei muitas conhecidas, irmãs, primas e parentes que traziam ao mundo novos e novas cearenses. Ali também, no Hospital Manoel de Abreu, escapei por uma “peinha de nada”, graças a Deus e à competência do doutor Humberto Macário de Brito — havia sido desenganado, em decorrência de complicações intestinais nos primeiros meses de vida.
Acabei de conhecer, neste mesmo lugar de nascenças e embates, o Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo. Como diz um antigo mantra dos sertões do Nordeste: “Só no Crato!” A exclamação, entenda, é usada em situações de espanto diante uma coisa ou ocorrência inesperada, inédita ou extraordinária. Só no Crato, mas é bom que se diga: o CCC é feito e integrado pelos 29 municípios da região do sul do Estado.
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Antes de funcionar como hospital e maternidade, o prédio foi sede do Seminário da Sagrada Família, criado por religiosos alemães em 1948. Em abril de 2022, o então governador Camilo Santana inaugurou as instalações culturais. Uma nova história começou a ser contada.
É bonito de ver o movimento. Aos sábados e domingos é uma festa. Haja piqueniques na grama sob o sol, rodas de leitura debaixo das mangueiras, jogos na Areninha, vôlei na areia e manobras de skate na pista. Tem ainda biblioteca, brinquedoteca, salões de exposição, estúdios, emissora de rádio, cinema e um teatro com 600 lugares.
Para ver o céu mais bonito do mundo, como assegurava o artista Sérvulo Esmeraldo, em breve será aberto o planetário — ora direis, ouvir estrelas da Chapada do Araripe.
Guiado pela diretora Rosely Nakagawa, o fotógrafo Allan Bastos e o artista Carlos Henrique Soares — craque da xilogravura e outras invenções gráficas —, vi por dentro e por fora o ensaio de um rebuliço que se prepara nas artes e nas manifestações culturais do Cariri. É coisa de primeira. A partir de outubro, será uma revolução, com o pleno funcionamento de toda a estrutura. O Ceará, o Nordeste e o Brasil inteiro verão o que virá dessas bandas caririenses.
O curioso, segundo a equipe do Centro Cultural, é que diante das ruínas da construção antiga, alguns visitantes lembravam de mortes de parentes e conhecidos no velho hospital Manoel de Abreu. Depois da obra pronta e de toda a boniteza da área, quem chega ao local só relata sobre os nascimentos ou vidas salvas entre aquelas paredes.
P. S. Aproveito a viagem para agradecer ao escritor J. Flávio Vieira pelo título de sócio honorário do Instituto Cultural do Cariri (ICC). Obrigado, Câmara Municipal do Crato, pela comenda João Brígido — fundador do jornal “O Araripe”, em 1855. Pense em um homem pioneiro na galáxia de Gutenberg!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.