Sem Jô e sem humor político na tv brasileira

Legenda: O escritor e humorista Jô Soares morreu aos 84 anos na madrugada desta sexta-feira (5) no Hospital Sírio-Libanês
Foto: Jô Soares Divulgação Rede Globo/Direitos Reservados

Dos tantos personagens geniais de Jô Soares, o General segue atual, atualíssimo, mesmo sendo uma figura dos anos 1980. Ele fazia parte da galeria de tipos inesquecíveis do programa “Viva o Gordo”. Esse militar não se conformava com o fim da Ditadura. A Democracia era inadmissível para o risível sujeito.

“Tira o tubo, tira o tubo”, dizia o genérico General, depois de sair do estado de coma e descobrir que o ciclo dos ditadores de farda havia chegado ao fim. Preferia a morte. Diante do ensaio de golpe, na pauta diária do bolsonarismo mais uma vez, não há como não lembrar deste milico inconformado.

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Como faz falta o humor político e popular na tv brasileira. Jô e Chico Anysio conseguiam frescar com as autoridades e desnudá-las. Até o mais ingênuo e desligado brasileiro entendia a gozação e fazia dos governantes uma piada.

Um personagem bizarro como o capitão Bolsonaro seria uma festa para estes gênios. Paulo Guedes, ao ironizar as domésticas que “viviam na Disney”, seria outro alvo na certa. Não havia um ministro da Economia que passasse ileso. Imagina na atualidade, com o osso dominando o cardápio dos mais pobres!

Bem que o Marcelo Adnet poderia ter a sua atração nos ares. Seria uma ótima pedida na sátira da realidade verde e amarela — ele já mostrou como é craque, como é do ramo. O meme das redes sociais não basta, o videozinho engraçado do Tiktok tampouco, é preciso mais humor na televisão aberta.

É absurdo pensar que o Paulo Guedes — sim, volto ao meu vilão da vez — termine a sua gestão sem virar personagem de comédia. Não há um só bordão para dizer na feira e no supermercado que lembre o Delfin Netto do momento. O Delfin que virou Sardinha entre os tipos eternizados por Jô Soares.

Gente, o Chico Anysio transformou até a Zélia Cardoso de Mello em aluna da Escolinha do Professor Raimundo. A Zélia do Plano Collor que confiscou a poupança da brava gente brasileira. Depois até casou com a ex-ministra, mas antes do amor veio a piada. Não deixou barato.

O Guedes, além de ser paparicado na grande imprensa, ainda deu sorte de pegar a tv sem os programas de sátiras. Apenas nas atrações por assinatura demos a sorte de ter um Gregório Duvivier (Greg News, HBO) que fez troça do bolsoguedismo.

“Tira o tubo, tira o tubo”. Nem o General do Jô acredita que um governo repleto de Pazuellos passe tão impune. Só a urna eletrônica nos salva!

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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