Não foi a primeira vez que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), atacou o Nordeste. Em junho, escancarou o preconceito ao insinuar que os nordestinos trabalham menos do que as pessoas nascidas no Sul e Sudeste. Agora, caprichou na ofensa, ao dizer, em entrevista ao “Estadão” que somos “vaquinhas que produzem pouco".
No seu ato de xenofobia, Zema reforça a ideia de que os sulistas e sudestinos carregam o Nordeste nas costas, mito eternamente repetido, por brasileiros desinformados, em cidades como Rio e São Paulo. Com discurso separatista, o governador aposta no ódio político, uma herança típica do ex-presidente Bolsonaro, seu aliado em outras pelejas nada exemplares.
Entre diversas respostas ao representante do partido Novo, a mais contundente e certeira foi a de Flávio Dino, ministro da Justiça do governo Lula: “É absurdo que a extrema-direita esteja fomentando divisões regionais. Precisamos do Brasil unido e forte. Está na Constituição, no art 19, que é proibido “criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”. Traidor da Constituição é traidor da Pátria, disse Ulysses Guimarães”.
As contestações no campo da política foram firmes e uniram todas as correntes partidárias e ideológicas do Nordeste. Ficou faltando, porém, alguém processar Zema por xenofobia, o que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) passou a considerar, desde o ano passado, como crime de racismo —praticar, induzir, incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
No seu clássico “Nordestino, sim, Nordestinado, não”, o poeta Patativa do Assaré alertava sobre esse tipo de guerra promovida pelo governador mineiro. É uma intriga inconstitucional que aposta na divisão entre os brasileiros e retoma os piores momentos da campanha eleitoral de 2022.
Pior é que não podemos tratar apenas como um palpite infeliz, lapso ou ato falho — para ficar no balcão do doutor Freud. De tanto repetir essa mesma mentira criminosa, Zema corre o risco de acreditar que está falando uma verdade irretocável. Que perigo.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
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