O festival nacional de xenofobia correu solto de novo depois da vitória legítima e democrática de Lula. Não podemos normalizar esse tipo de crime, óbvio. Processar é preciso. O que me espantou tanto quanto essa violência, no entanto, foi o grau de ignorância dos criminosos sobre o Nordeste.
A ideia de um lugar onde se passa férias e feriados, com uma faixa de litoral que vai da praia de Iracema aos pés da estátua do Padre Cícero, um marzão só, que maravilha. A ideia de um lugar onde ninguém trabalha, como em uma utópica Cocanha. Mas também um lugar de mortos de fome, miseráveis, uma imensa legião de pedintes que dependem da ajuda de sudestinos e sulistas.
Algumas das infâmias postadas em redes sociais me lembraram um Nordeste descrito por jornais do Rio e São Paulo durante a guerra de Canudos, ali por volta de 1896-97. Hordas e hordas de esfomeados nos sertões baianos. Aqui direto da Fliu, festa literária de Uauá, na geografia de Antônio Conselheiro, aproveito para recomendar um livro necessário: “No calor da hora” (Cepe editora), de Walnice Nogueira Galvão. Ela relata como a imprensa cobriu o episódio.
Se você acha que viu fake news durante a campanha eleitoral de 2022, calma, repare nas manchetes estampadas nessa obra. Coisa de deixar o bolsonarismo no chinelo currulepe.
Fico imaginando o susto que os promotores do festival de xenofobia teriam com a modernidade nordestina. Em breve poderão visitar, por exemplo, uma usina de hidrogênio verde no Ceará. O Porto Digital, excelência pernambucana, também está ao inteiro dispor. Mas vamos parar por aqui. Não somos amostrados a se gabar. Tampouco cometeremos a injustiça de não citar a vanguarda dos nove estados. Descubra você mesmo, em uma viagem, o admirável mundo novo dos inventores e inventoras de Campina Grande, Paraíba. É tecnologia para entortar o juízo de qualquer preconceituoso.
Pense numa região para não corresponder ao que os xenófobos pensam dela. Simplesmente pense. Reflita. Juro que nem queria ter voltado a esse tema. Seria, porém, pecar por omissão diante de tantas infâmias. Viva o Nordeste de todos os brasileiros. E vamos vencer a ignorância.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
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