Repito: rede social não combina com saúde mental. Palavra de um usuário envelhecido em barris de polêmicas e desentendimentos. Aqui tudo se trumbica, quase nada comunica — na contramão da filosofia do velho guerreiro Chacrinha.
Rede social, às vezes, é mortal. Como ocorreu neste finalzinho de ano com a Jéssica Vitória Canedo, 22, mineira vítima de uma fake news que evito repetir nessa crônica. O outro “suicidado pela sociedade” (uso uma expressão do dramaturgo francês Antonin Artaud) foi o youtuber PC Siqueira.
Em casos de depressão, pior ainda. A primeira coisa que a maioria dos psiquiatras recomenda, diga-se, é justamente cortar o uso e abuso das interações nesse meio tóxico da internet.
O mundo inteiro está cuidando de regulamentar o funcionamento dessa engrenagem. Facebook, Instagram, X (ex-Twitter) e outras arapucas do gênero precisam ter regras e responder à Justiça quando lubrificam a máquina do ódio.
A extrema direita brasileira quer deixar a desgraça correr solta, sob a desculpa de que atrapalha a “liberdade de expressão”. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também não se alui para votar o projeto-de-lei das Fake News, o enjeitado PL 2330 que mofa nas gavetas de Brasília.
Deixa o algoritmo me levar, algoritmo leva eu. Esse parece o lema oficial do Centrão, incluindo as bancadas da Bala e da Bíblia. Desprezo total ao versículo tão explorado nas campanhas eleitorais dessa turma, o João 8:32: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".
Rede social é julgamento final. Não espera “trânsito em julgado”. Tom Zé, o profeta de Irará, cantou essa bola ainda em 2013, na canção-manifesto “Tribunal do Feicebuqui”. Foi a sua resposta à condenação nas redes. O “crime” do gênio baiano, para quem não lembra: narrou um comercial da Coca-Cola sobre a Copa do Mundo que seria realizada no Brasil em 2014.
“Traidor, mudou de lado/ Corrompido, mentiroso/ Seu sorriso engarrafado”, ironizou a a letra de Tom Zé, na pele do cancelado daquela temporada.
Que os últimos trágicos episódios nos sirvam de reflexão nessa hora. Por um 2024 mais leve para todos.
Desejo um ano novo com mais balanços nas redes cearenses e menos intrigas nas redes sociais.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.
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