O presidente e os xeleléus

Faça paz ou faça guerra, faça sol ou faça chuva, com duas mil ou 500 mortes diárias, na pandemia braba ou em fases transitórias, com gasolina a seis ou a oito reais, com o botijão a 80 ou 120, com osso ou pé de frango, na carestia da feira ou da gôndola do gerente Paulo Guedes.

“Sangue, sangue, sangue, sai do meio que lá vem o apocalipse” — assim falava meu avô Manuel Novais, açougueiro em Floresta do Navio, vale do Pajeú, Pernambuco, e depois em Santana do Cariri e Juazeiro do Norte.

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Não importam as condições meteorológicas ou econômicas, está sempre ok para o homem do Planalto, o importante é enforcar o feriado e, por tabela, o brasileiro ou brasileira que confiou no seu papo de ilusionista de auditório.

O pobre que se dane, ele engata um Justo Veríssimo (personagem do gênio-mor de Maranguape) e segue no seu jetski como um Collor em rotação acelerada, versão 2022 do “caçador de marajás” — lembra daquela criatura soturna que confiscou a poupança e deixou muita gente louca?

Como se vivesse em um Brasil paralelo, o mito singra os mares dos boas vidas, gasta no cartão corporativo e ainda critica o eleitor inconformado com suas folgas seguidas de novas folgas ad eternum. Assim segue o simplão da massa tirando onda com nossa cara. Sua vida, porém, já foi mais fácil.

Sim, ainda rola o aplauso do cercadinho de fãs — na versão terrena ou no formato flutuante dos bacanas de lanchas e barcos. A vaia, porém, comeu solta durante o Carnaval no Guarujá e arredores do litoral paulista nesta semana. Vide vídeos a granel postados nas redes sociais e outras bodegas internéticas.

A chegada na praia do Gonzaga, por exemplo, não foi nada agradável para Sua Excelência. Isso prova que não dá mais para arriscar a surpresa, mesmo em uma cidade como Santos, onde obteve 71,35% dos votos em 2018. A Brasília verde e amarela da realidade capota nas curvas do sistema Anchieta/Imigrantes.

Faça paz ou faça guerra, seja filé mignon ou picanha, o capitão reformado se diverte com os militares do partido. Não dá um prego numa barra de sabão faz um século, haja mamata e patriotismo. E assim seguirá, enquanto houver xeleléu nesse mundo.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.