Com um placar de 61% para Lula e 16% de Bolsonaro, segundo a pesquisa CNT desta semana, o Nordeste deixa na poeira a ideia de uma polarização mais arrochada, como se verifica nas outras regiões do país.
A aposta no voto pela barriga, clichê de nove entre cada dez analistas sudestinos, se esfarelou. Depois de três meses do Auxílio Brasil, o presidente Bolsonaro não viu este direito do cidadão ser convertido — automaticamente, como esperava — em dividendos eleitorais em território nordestino.
O efeito ocorreu no Sudeste, onde há empate técnico de 34% do petista contra 32% do atual dono da caneta. Nada contra o eleitor paulista ou carioca ser influenciado por um benefício a que tem direito. É mais do que legítimo. A esquina São João com a Ipiranga, tomada por refugiados urbanos, faz parte da nova geografia da fome tanto quanto a estrada de Canindé a Caridade.
Esta resenha se arrasta de eleição a eleição. Lembro de cabeça de um artigo da jornalista pernambucana Fabiana Moraes, na revista Piauí de agosto de 2018. Vale um google no texto “Razão não depende de geografia” para entender melhor a razão do Nordeste seguir, isoladamente, como a única terra que vota com o estômago.
Nas redes sociais, outro guia atento ao assunto é o demolidor de clichês eleitorais Franciel Cruz, escritor baiano, autor de “Ingresia” e um dos melhores cronistas de costumes da praça. Vale acompanhar os seus rastros.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.