O Nordeste quer igualdade, mas não sonha em ser Sudeste

Uma declaração da candidata Simone Tebet (MDB), na sua visita à cidade de Campina Grande, na Paraíba, assanhou a autoestima e o humor dos nordestinos. A senadora do Mato Grosso do Sul disse, no resumo da ladainha, que há condições de tranformar o Nordeste no que é o Sudeste hoje. Pelo tom da fala, não se tratou de um palpite infeliz digno de cancelamento. Tampouco foi um ato falho, chiste, gafe ou qualquer vacilo do inconsciente que careça a gente recorrer a um "Freud explica" no boteco.

Talvez tenha sido apenas uma visão desatualizada sobre a região -- era comum esse tipo de discurso, até mesmo por parte de quem reinvidicava o fim das desigualdades na partilha das verbas do país. O certo é que, mesmo dito de forma delicada, não bate com as aspirações nordestinas o modo e o modelo do que costumávamos chamar de "sul maravilha". Está longe de ser o ideal de vida. Os memes e as rabissacas em direção à candidata da "Terceira Via" que o digam.

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Oxe, isso é uma ameaça, não uma promessa de felicidade. Assim foi o manifesto engraçado da maioria das pessoas. Há sim a ideia de que o Nordeste precisa de muitas melhoras econômicas e sociais. O sentimento, no entanto, não é do desejo por uma equiparação com a realidade sudestina. Sonha-se com um Nordeste melhorado, cada vez mais nordestino.

"É importante nós entendermos que o interior do interior do Brasil tem muito a oferecer para o Brasil. O Nordeste tem grandes potencialidades. Nós temos condições de transformar o Nordeste no que é o Sudeste. É o isso o que queremos", disse Simone Tebet, na entrevista coletiva

Não é que a gente pegue a viola e saia cantando por aí "Nordeste Independente", bela faixa de Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova, sucesso do início dos anos 1980 na voz de Elba Ramalho. Não se trata disso, mas é importante dizer que os nossos quereres são outros, nobre senadora.

Essa música, aliás, como diz o cearense Dr. Zem, é um bem-humorado e utópico manifesto contra a discriminação sofrida pela região ao longo da história. Cai muito bem, na vitrola e no momento político, como uma resposta irônica, não como um libelo contra a federação, obviamente.

Bráulio Tavares, é bom que se diga, filho de Campina Grande, é um desses matutos sabidos e cosmopolitas que dominam da poesia popular à ficção cientítica. Da cantoria de Mocinha de Passira ao romance policial "noir" norte-americano -- é um excelente tradutor do escritor Raymond Chandler. Quer falar sobre Augusto dos Anjos ou Edgar A. Poe? É só chamá-lo e teremos uma aula. Até roteiro para Didi Mocó no programa "Os Trapalhões", audácia da pilombeta, este paraibano fez às pencas. Sem contar a infinita parceria com Lenine. Palmas para o poeta que ele merece.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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