O encontro entre o capitão Bolsonaro e o coronel Ludugero

Legenda: Bolsonaro durante Festa de São João de Caruaru
Foto: Isac Nóbrega/PR

A presença de Jair Bolsonaro em Caruaru, onde recebeu aquela saudação impublicável dos forrozeiros juninos, me fez lembrar de um personagem extraordinário do Nordeste: o Coronel Ludugero. Ignorante, metido a brabo, com um trabuco no cós da calça, era uma caricatura do político à moda antiga, mas certamente ajudaria a enxotar o capitão-presidente da sua terra, afinal de contas, odiava concorrência desonesta.

Com o secretário Otrope e Filomena — a humilhadíssima esposa —, a trupe de Ludugero fez muito sucesso no rádio e vendia mais discos que Roberto Carlos. O coronel não pegou a moda das motociatas, preferia o seu jumento Zé Fernando e a companhia do cachorro pé-duro, mas fazia, disparado, a melhor sátira da política brasileira.

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Todo mundo imitava e repetia as tiradas de Ludugero nas praças e bares do interior. Infelizmente, o ator que dava vida ao ilustre personagem, Luiz Jacinto da Silva, morreu muito cedo, aos 41 anos, em um acidente de avião no comecinho dos anos 1970. Causou uma comoção nordestina sem fim. Cerca de cem mil pessoas acompanharam o enterro na Capital do Forró.

Quem produzia e escrevia os roteiros do coronel era um grande artista pernambucano chamado Luiz Queiroga, que também trabalhou com os cearenses Chico Anysio e Renato Aragão, entre outras autarquias do humor nacional. (Jovens, ao Youtube, lá vocês terão acesso a uma parte do tesouro deixado por essa gente).

Queiroga escreveria um impagável encontro entre o capitão Bolsonaro e o coronel Ludugero no país de Caruaru. Cada um com sua turma de xeleléus, como Ludu tratava seus fanáticos seguidores masoquistas. Sim, quanto mais espezinhava os fãs com a sua política coronelística, mais aumentava a fidelidade.

A disputa entre os eleitores seria acirrada. O coronel do Agreste, porém, ganharia fácil no discurso e no carisma. No jeitão de andar e de se portar em público, garanto: daria empate técnico. Como se parecem, meu Deus, sendo o caruaruense um pouco mais jeitoso e galante. Ludugero, certamente, faria uma gestão menos desastrosa na Presidência — para vencer essa peleja, aliás, não precisa muita luta. Estou certo, Otrope?

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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