Reparo aqui nos cachês de shows milionários de prefeituras e só lembro das mixarias que restam para os trios de forró pé-de-serra nas festas juninas. Aos grupos de manifestações populares, então, sobram apenas “esmolas” — velhos mestres de bandas cabaçais e reisados, por exemplo, precisam bater mil vezes à porta das secretarias de cultura e turismo por uma pataca. Morreram no ano passado e esse ano querem matá-los de novo, lembrando aqui o poeta Zé Limeira, gênio do surrealismo paraibano.
A grana pesada vai toda para os cantores das modas e modinhas sertanejas. E de cara, já aviso, a discussão aqui não é estética. Poderia ser rock´n´roll, MPB, samba e o diabo a quatro. O que pega é o superfaturamento com verbas públicas. Parece até uma gincana para saber que prefeito gasta mais e quem faz o espetáculo mais invocado. Dane-se as condições de saúde e educação dos municípios.
Nem preciso personalizar o escândalo em Gusttavo Lima, o astro da vez no circuito da derrama sertaneja. Tampouco quero rememorar que tudo começou com a hipocrisia do cantor Zé Neto ao atacar os artistas que usam a Lei Rouanet e, por tabela, a “tatuagem no toba” da Anitta. Maldita hora que provocou a fera. De lá até agora, a cada minuto ficamos sabendo da sofrência dos cofres municipais diante dos vocais desses cantores.
Não é questão de gosto, repito. Você pode muito bem admirar seu ídolo do ramo sertanejo universitário e ser crítico da gastança com dinheiro público, afinal de contas são esses astros de sucesso que possuem mais chances no mercado de shows Brasil afora.
Ah se eles soubessem a moleza (tecla ironia) que enfrentam os artistas da música e do teatro (mesmo os já conhecidos) com a Rouanet. Isso para captar uma merreca de renúncia fiscal das empresas privadas. Ah se eles soubessem como é uma prestação de contas dessa mesma lei da cultura — não teriam um minuto de paciência.
É essa mesma gente que aplaude o presidente Bolsonaro na hora em que ele veta as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo, mesmo depois de aprovadas por deputados e senadores de esquerda, centro e direita no Congresso. O dinheiro dessas leis sim, chegam lá na ponta, da periferia de SP à comunidade do Gesso, lá no Crato. Um modelo bem mais democrático e espalhado.
Abençoada tatuagem no toba que nos fez conhecer toda essa “farra do boi” com a grana pública. Um toba, diria, muito pedagógico e iluminista para os nossos tempos de trevas.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.