História de assombração no país do chupa-cabra

Legenda: Mas o que a gente vive hoje no Brasil, tenha dó, é uma história de assombração atrás da outra
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No capítulo anterior, falamos da onça e seu impacto em uma narrativa, seja em uma telenovela como “Pantanal” ou em uma roda de mentirosos em um alpendre lá da fazenda “Não me Deixes”, Quixadá adentro, terra de Rachel de Queiroz.

Mas o que a gente vive hoje no Brasil, tenha dó, é uma história de assombração atrás da outra. É malassombro para tudo quanto é lado. Parece que o país inteiro está tentando arrancar uma botija e, por causa disso, é obrigado a aguentar todo tipo de ziquiziras, imbuanças e visagens.

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Botija, para quem não sabe, é um tesouro deixado por alguém que já partiu desta para outra. Uma alma penada. Para chegar à fortuna escondida, o tirador de botija tem que enfrentar tudo quanto é desgraça e marmota, como se fosse uma provação infinita.

É um Brasil tão mal-assombrado que os fantasmas reaparecem com aquelas maquininhas de remarcação de preços dos anos 80. O país do chupa-cabra está com o dragão da inflação mordendo os calcanhares. Um botijão de gás — Bolsonaro e Guedes juraram de pés-juntos que ficaria no máximo a R$ 35 — leva 10% do salário mínimo.

É de lascar o cano, é de rachar a taboca. Melhor enfrentar o malvado Zé Barbatão, personagem do “Gótico nordestino”, livro do paraibano Cristhiano Aguiar, de Campina Grande, sob as bênçãos da Borborema, para todas as galáxias do horror moderno. Melhor sonhar com a mulher dos pés molhados...

Tempos de assombrações. Da Velha do Chapelão (o monstro da fome, no imaginário dos sertanejos durante as secas brabas) e da Velha da Foice, a morte que levou mais de 660 mil na pandemia de Covid, conforme a aritmética hedionda dos coveiros — sopra aqui no meu ouvido a voz de Augusto dos Anjos, eternamente debaixo daquele pé de tamarindo.

É tanto malassombro que a própria Democracia anda arrepiada e corre riscos. Os fantasmas dos porões e os papa-figos da tortura andam assanhados. Tomara que seja apenas uma lenda urbana como a Mulher de Branco (de Caicó, a legítima), a Bailarina Azul (Teatro José de Alencar) ou a Perna Cabeluda. Xô, marmota.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.