Assombrações eleitorais, amorosas e midiáticas

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“Boa noite. Logo mais transmitiremos o último debate do segundo turno das eleições presidenciais de 2022 entre Jair Messias Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, com mediação do jornalista Lucas de Souza, diretamente dos nossos estúdios de São Paulo. E logo depois do debate eu encontro vocês no Jornal da Noite com os comentários e a repercussão desse encontro que pode definir quem será o próximo presidente do Brasil. Até já.”

Bolsonaro presente em debate? E logo um debate final e decisivo? Calma, pode ser apenas uma ficção. O nervosismo que passamos na leitura desse livro, no entanto, é hiper-realista. O terrorismo eleitoral dessa história carrega consigo outros dois infernos: uma D.R. (discussão de relação) e o questionamento sobre imparcialidade jornalística — bem, aqui já estamos enfiados até os chifres no massapê ficcional.

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As duas criaturas metidas nesse funaré, Marcos e Paula, trabalham em uma grande emissora de TV e estão recém-separados, depois de vinte anos de casamento. Ele é editor, ela apresentadora. A cepa do momento é a Sigma, dez vezes mais contagiosa, em um futuro do presente bem perto de todos nós. Terceira Via, se existiu de fato, não se sabe mais a essa altura dos acontecimentos.

O livro é “O Debate” (editora Cobogó), escrito em forma de peça de teatro por Guel Arraes, autor pernambucano, e Jorge Furtado, gaúcho. O debate que são três em um. Três tristes tretas — a eleitoral, a midiática e a amorosa. As discussões nos levam a puxar na memória outras tantas pelejas em que nos envolvemos ou fomos envolvidos. Não há também como não rebobinar no juízo a edição da tv Globo do debate Lula x Collor em 1989. Não há.

Marcos tem 60 anos e Paula, 42. Debatem o futuro do Brasil e da humanidade nos bastidores do duelo Lula x Bolsonaro. Mas entre as paixões privadas e as ideias públicas, uma pergunta soa como um enfisema pulmonar naquele fumódromo: “Você está saindo com o Mateus?”. Pega fogo, D.R. Ela aproveita e mostra a hipocrisia dele, ainda sobre o tema das traições.

Três tristes tretas, porém indispensáveis. Do final do debate até o momento do voto, temos o dia mais longo da história. Suspense. Marcos reconhece que Paula deu a melhor aula: não existe neutralidade absoluta no jornalismo. O que terá acontecido nos bastidores? Já fecharam as urnas no Acre? Começa a contagem dos votos. Haja assombração até a chegada dessa hora.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.



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