Você sabe como se chama a fêmea do cupim? Revelo mais adiante. Sabe aqueles dias em que você foge da realidade, digo, do noticiário, ainda meio grogue da overdose que foram os últimos meses no Brasil? É o caso deste cronista alienado, mas só por hoje, prometo, como diz um alcoólatra diante dos sinceros desafios dos AA. Só por hoje.
É importante abstrair, nem que seja por umas horas, a realidade. Quem aguenta? Releio Madame Bovary, vejo videoteipe da série B do campeonato brasileiro, o futebol como bendito ópio do povo, miro no exemplo do Rubem Braga concentrado no seu pé de milho — em um momento em que surge o primeiro pendão no quintal, que milagre mesmo em uma roça urbana, urbaníssima, em uma cobertura de Ipanema.
Observo o rito de chegada daquela mãe de maiô azul no posto cinco de Copacabana. A mãe e sua menina de uns 6, 7 anos, baldinho, pá, castelo de areia... É outono, mas é preciso conversar com Iemanjá, secretamente, como se fosse a hora do foguetório da virada de ano. Tudo, menos a realidade das manchetes com as mãos sujas ou com mãos limpas.
Foi aí que lembrei da fêmea do cupim que surgiu em uma crônica de Manuel Bandeira datada de 25/10/1961. Hoje é fácil saber, em um clique, como se chama a mulher do inseto que rói todas as madeiras — com exceção da madeira do Rosarinho, atesta o frevo do Capiba.
Na época em que Bandeira fez a pergunta, nem o alagoano Aurélio, nosso homem-dicionário, sabia a resposta.
Bendita questão. Porque é importante e digno não suportar, por alguns momentos, a realidade mais pesada. Os juros do bolsonarista Campos Netto ainda não baixaram? Não faço a menor ideia. Passo.
Só é necessário no momento reler Fup, o maior e mais genial pequeno livrinho do mundo. Tem uma pata gorda e um maluco que faz cercas e mais cercas o tempo inteiro.
Urge sentar na esquina da Miguel Lemos com Ayres de Saldanha, ai de mim Copacabana, e testemunhar a marcha à ré dos caranguejos no tanque do bar Príncipe de Mônaco.
A linda e elegante madame arará, fêmea do cupim, agradece. Sim, amigas e amigos, a fêmea do cupim se chama arará, muito prazer.